José Henrique Mariante
Sweet sixteen
SÃO PAULO - Com resultado semelhante ao de levantamentos anteriores, a pesquisa Datafolha sobre maioridade penal permite supor que a maioria absoluta dos pais brasileiros considera seus filhos suficientemente responsáveis para responder judicialmente como adultos a partir dos 16 (os doces 16, como dizem os americanos). Ou o rigor só vale para os filhos dos outros?
A julgar por expediente relativamente comum nos corredores das escolas da elite paulistana, não existe hipocrisia, pais e mães de fato acreditam que os rebentos estão prontos para a briga antes do que prevê a lei contestada. Tanto que vários são coniventes com o que a molecada faz para parecer mais velha nestes dias.
Qualquer um que tenha adolescente em casa já ouviu a ladainha. O buraco negro da existência, aquele que todos enfrentamos entre os 14 e os 18, se traduz na São Paulo atual no limiar existente entre as matinês, coisa de criança, e as baladas de adulto, coisa de quem tem 18. E quem tem 18? Quem tem um RG para mostrar.
Com documentos escolares feitos de plástico, a criatividade se voltou para o documento oficial. Qualquer impressora, na calada da tarde, produz um trabalho razoável. Mas há notícia, propagada sem muita convicção entre os interessados, de coisa mais profissional, ofertada na surdina, que custa e cheira a crime.
Essa redução ou, melhor dizendo, antecipação particular da maioridade penal ainda precisa contar com a complacência de seguranças, donos de bares e organizadores de festas, alvos preferenciais dos precoces. Mas, quando alunos de um tradicional colégio católico da cidade, a cada dois meses, fazem uma "cervejada" para arrecadar fundos para a formatura, é de se esperar que o rigor resta na lei --talvez apenas nela.
É moralismo se preocupar tanto com o filho em ambiente adulto, submetido a práticas adultas, antes de estar preparado, antes da hora? Imagine então se ele estiver no centro de detenção provisória.