Alvaro Costa e Silva
Hoje tem marmelada?
RIO DE JANEIRO - Aberta a tampa da Fifa, o futebol --ou o negócio mafioso em que o futebol se transformou-- não para de feder. As últimas denúncias de maracutaia envolvem o cartola argentino Julio Grandona, que morreu ano passado, e o árbitro paraguaio Carlos Amarilla. Uma conversa telefônica revelou que o primeiro manobrou para o segundo apitar o jogo Boca Juniors x Corinthians, pela Libertadores da América de 2013. O time brasileiro teve um gol anulado e um pênalti não marcado, e saiu da competição.
A mesma gravação mostrou que Grandona também escolheu o juiz e os bandeirinhas da semifinal da Libertadores entre Santos e Independiente, em 1964, que terminou com a vitória do time argentino pelo qual torcia o paredro. Com tanta confusão, Diego Maradona, que se diz candidato a presidente da Fifa, não podia ficar de fora: afirma que a derrota da Argentina para a Alemanha, no Mundial de 1990, na Itália, foi arranjada.
A paranoia ludopédica ferve a todo vapor. Basta entrar no botequim que, numa ponta do balcão, um sujeito lembra a final da Copa da França, em que o Brasil foi derrotado pelos donos da casa por 3 a 0, depois da convulsão de Ronaldo Fenômeno; na outra ponta, um camarada, com ares de Pacheco, garante que os 7 a 1 do Mineirão frente à Alemanha, na Copa das Copas, foram "marmelada da grossa".
Até pelada no aterro do Flamengo está sob suspeição. O tamanho do esquema de corrupção ora investigado explica qualquer delírio de torcedor. Mas nada justifica a cortina de silêncio com que os escândalos são tratados no ex-país do futebol.
A CPI da CBF no Senado, instalada para averiguar possíveis irregularidades em contratos para realização de partidas da seleção brasileira, ainda nem começou o aquecimento. Corre-se sério risco de a bola não rolar.