EDITORIAIS
Ciclovias desiguais
Nem sempre se pode dizer sem exagero que "uma imagem vale mais do que mil palavras", mas, quando se trata de discutir falhas na implantação das ciclovias na cidade de São Paulo, poucos argumentos seriam mais persuasivos do que o retrato exibido quarta-feira (8) na capa desta Folha.
Na parte superior, um ciclista pedala num caminho cheio de lama, sem que se vejam ao redor sinais delimitando seu espaço; na inferior, outra bicicleta avança sobre o asfalto bem cuidado e pintado de vermelho, numa faixa nitidamente separada do restante da rua.
O primeiro personagem está num bairro da periferia paulistana, o Iguatemi, na zona leste; o segundo trafega pela Santa Cecília, na região central. Embora não pareça, ambos se valem do mesmo tipo de iniciativa urbanística implementada pela mesma gestão municipal.
O governo de Fernando Haddad (PT) se impôs a meta de criar 400 km de vias exclusivas para bicicletas. Até meados de junho, quase 250 km se encontravam prontos.
Basta uma conta simples para notar que, nesse ritmo, o petista honrará seu compromisso ao final do mandato. Com facilidade maior, todavia, se percebe que o termo "prontos" não se aplica igualmente a todas as faixas para bicicletas.
Constata-se que as ciclovias de bairros centrais e de classe média --nem é preciso mencionar o trecho da avenida Paulista-- têm qualidade muito superior à das localizadas nos extremos da capital, carentes de iluminação e sinalização, mas pródigas em sujeira e buracos.
Pode-se alegar, como fez Tadeu Leite, diretor de planejamento da CET, que os problemas identificados decorrem de um deficit histórico de infraestrutura. Não seriam, assim, falhas específicas do projeto de ciclovias ou frutos do descaso.
Difícil acreditar. De acordo com os dados mais recentes disponíveis, os cinco distritos com mais viagens de bicicleta por dia estão na periferia. Nenhum deles, contudo, figura entre os dez mais beneficiados por ciclovias.
Além disso, das 32 subprefeituras, apenas 6 não haviam sido contempladas com vias para bicicletas até junho, todas nos extremos da cidade; e 3 delas aparecem entre as que têm mais ciclistas.
Por outro lado, moradores e comerciantes de bairros mais abastados reclamam das pistas para bicicletas, sobretudo pelo que há de voluntarismo em sua instalação.
Quando se trata da implantação de ciclovias, as regiões da capital, por motivos opostos, se igualam na falta de planejamento e de diálogo.