Ana Estela De Sousa Pinto
Levy em transe. Ou pior
SÃO PAULO - Baixou um Guido Mantega em Joaquim Levy nesta semana. Possuído, o atual ministro da Fazenda não pôde impedir que um morto-vivo se levantasse do primeiro mandato de Dilma Rousseff.
Não há, pelo menos, sinal de parentesco entre as premissas que Levy vinha defendendo e as deste zumbi apelidado de PPE (Programa de Proteção ao Emprego). São elas:
1) Não vale para todos. Em vez de uma reforma trabalhista "tipo tipo" --que desse agilidade ao mercado de trabalho inteiro--, ressurgem os remendos das ajudas setoriais.
2) Alimenta grupos de interesse.
O sistema alemão, supostamente a inspiração do PPE, vale para quaisquer sindicatos e empresas que negociem um contrato. A Justiça pune os desvios. No arremedo nacional, será preciso barganhar a boa vontade federal: uma comissão de çábios (salve, Elio Gaspari) vai definir quem merece a misericórdia pública.
3) As contas são opacas. Afinal, a misericórdia seletiva com dinheiro público piora as contas do governo? Ou traz economia, já que mantém a arrecadação e evita gastos com seguro-desemprego? E, se traz alívio ao caixa, por que precisa ser limitada?
4) É paternalista. O governo anuncia socorro às empresas que foram prejudicadas "pela crise", coitadas, e não por "má gestão" --como se não fosse parte da gestão prever a crise e agir para sobreviver a ela. Honda e Toyota estão aí para mostrar que decisões estratégicas permitem, sim, crescer num dos setores mais combalidos deste pobre ano brasileiro.
Levy, que já enfrentou com sucesso uma gripe forte e uma embolia pulmonar, talvez veja no PPE apenas um monstrengo bobo como os das séries dos anos 1960, que mal chegavam para assustar os Três Patetas.
É a hipótese mais otimista.
A pessimista é que os princípios econômicos de Dilma-1 --e seus defensores--, mal sepultados, possam voltar a assombrar o país.