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O acordo, enfim
Pacto nuclear assinado entre Irã e potências traz boas perspectivas para o futuro, mas ainda precisa passar pelo teste da realidade
Ao final de 20 meses de negociações, Irã, Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha anunciaram nesta terça-feira (14) um acordo para limitar o programa nuclear persa. O acontecimento histórico pode enfim desarmar um impasse internacional que se arrasta há duas décadas.
Em troca da suspensão das sanções econômicas, Teerã aceitou reduzir em 98% os estoques de urânio enriquecido e limitar os níveis de beneficiamento do material, além de cortar o número de centrífugas usadas nesse processo.
Dadas essas restrições, o Irã precisaria de um ano para produzir uma única bomba atômica caso abandonasse o tratado –com os recursos hoje disponíveis, necessita de apenas dois ou três meses.
Celebrado tanto pelo presidente americano, Barack Obama, como pelo iraniano, Hasan Rowhani, o pacto preservou os parâmetros estabelecidos de forma preliminar em abril e desatou o maior nó: as inspeções internacionais.
Pelos termos ora definidos, decidiu-se que a vistoria poderá ser feita em qualquer instalação, incluindo as militares, desde que solicitada com antecipação e por um prazo previamente determinado.
Em contrapartida, o Irã em breve recuperará acesso a bilhões de dólares congelados no exterior e terá mais facilidade para exportar seu principal produto, o petróleo.
Além disso, daqui a cinco anos estará livre para comprar certas armas convencionais; após oito, para adquirir mísseis.
No campo nuclear, passados oito anos, Teerã poderá aprimorar a tecnologia das centrífugas; depois de 15, não terá mais um teto para seu estoque de urânio enriquecido.
Essa nova etapa se dará sob o escrutínio de observadores internacionais, mas nem por isso as concessões ao Irã deixaram de ser fortemente criticadas por Israel, pela oposição republicana no Congresso americano e até por ex-assessores de Obama e democratas.
Temem, em linhas gerais, que o governo persa use o tratado para alavancar a economia do país e, em seguida, retomar o programa de armas nucleares.
Ciente da oposição que enfrentará no Congresso, Barack Obama logo saiu em defesa do tratado –afirmou, por exemplo, que se baseia na fiscalização periódica, e não na confiança– e já montou uma estratégia para conquistar o apoio das duas Casas legislativas e da opinião pública americana.
Também avisou que exercerá seu poder de veto caso o pacto seja modificado ou rejeitado no Capitólio.
Embora ainda precise passar pelo teste da realidade, o acordo –assinado por todos os países do Conselho de Segurança da ONU e pela Alemanha– cria possibilidades de controle do programa nuclear iraniano e representa óbvio avanço em uma região já conflagrada.
Seus signatários deram um passo importante para superar um impasse que já durou tempo demais.