Alvaro Costa e Silva
O último fantasma
RIO DE JANEIRO - A morte de Alcides Edgardo Ghiggia, aos 88 anos –no mesmo dia 16 de julho em que ele marcou o gol da virada do Uruguai sobre o Brasil, na final da Copa de 1950– teve imensa repercussão. Aqui neste espaço (19/7), Carlos Heitor Cony o chamou de "filho da puta".
Entende-se a dor de quem viu e sofreu o "maracanazo" ao vivo, mas, para a maioria dos brasileiros, Ghiggia era o velhinho simpático que volta e meia visitava o país. Não tinha cara nem capuz de "carrasco", epíteto com que nossa imprensa esportiva sempre o tratava.
Mais do que o fim de uma era, a morte do craque uruguaio representa a pá de cal, o sepultamento definitivo de outra lenda do futebol: o Maracanã, ex-Maior do Mundo. Faltava o ato final. O último fantasma está enterrado. As traves à direita das tribunas deixam para sempre de ser chamadas de Gol do Ghiggia. Adeus, Maracanã, o Velho.
O novo estádio, que custou tubos de dinheiro, ainda procura uma alma. Terá de encontrar seus próprios ídolos e pernas de pau, suas glórias e fracassos. Uma busca que pelo jeito vai demorar: domingo passado, enquanto o Vasco batia o Fluminense, torcedores com a camisa tricolor apareciam nas arquibancadas rindo às escâncaras e dando adeusinho para as câmeras de televisão. Uma cena ofensiva ao verdadeiro torcedor, que jamais poderá ser confundido com um cliente ou consumidor.
De lambujem, o fim de Ghiggia escancara a nova ordem do futebol brasileiro. O drama não é mais 1950, derrota já esquecida, velha como a imagem do injustiçado Barbosa buscando a bola no fundo das redes. O "maracanazo" virou fichinha perto de você sabe o quê. O que está pegando agora é o 7 a 1, o "mineiratzen". Espera-se ao menos que o trauma não dure 65 anos, aniversário que a conquista do Uruguai acaba de completar, para ser superado.