EDITORIAIS
Regressão à média
A julgar pelo desempenho do primeiro semestre, o crescimento mundial deve manter o mesmo ritmo observado no ano passado, em torno de 3%. Uma pequena decepção em relação às projeções recentes, que contavam com aceleração.
Sob a superfície, porém, aparecem crescentes divergências entre o mundo rico e os países emergentes. Observa-se, nos EUA e na Europa, retomada de crédito, consumo em alta e queda do desemprego.
No caso americano, a desocupação cai depressa, aproximando-se do nível pré-crise de 2008. Não por acaso há expectativa de que o Fed (banco central) inicie em breve um ciclo de alta de juros.
Na Europa, a despeito da Grécia, o crescimento deve se aproximar de 2%, puxado não apenas pela Alemanha mas também pela Espanha e pela Irlanda.
O problema está nos emergentes. A China ainda mantém ritmo de 6,5% ao ano, mas são evidentes os apuros com as dívidas. Embora seja improvável uma crise bancária, tais excessos limitam as chances de retomada enquanto o país transita para um modelo mais ancorado no consumo interno.
Seja como for, terminou o empuxo de globalização que sucedeu à entrada da China na Organização Mundial do Comércio, em 2001.
Se na década passada o comércio global crescia 15% ao ano, atualmente a alta é de meros 3%.
Não se vislumbra nova locomotiva no curto prazo. De fornecedores de matérias-primas na América Latina às cadeias de manufaturas na Ásia, todos enfrentam grandes obstáculos. Alguns mais que outros, como o Brasil, que usou mal a oportunidade, cometeu imprudências financeiras, errou no diagnóstico sobre as tendências globais e hoje lida com uma recessão brutal.
A década passada talvez tenha sido a melhor da história para os países em desenvolvimento. Entre 1980 e 2000, por exemplo, cresciam um ponto percentual a mais que os desenvolvidos, em média. De 2003 a 2008, a vantagem chegou a cinco pontos. Desde então, porém, retorna-se ao padrão anterior.
A expectativa de convergência para níveis de renda mais elevados está sendo novamente posta à prova em vários países emergentes. No caso brasileiro, não há nem sombra de um plano de ação.