Ali Rezaian
Jason Rezaian, um ano preso no Irã
Elementos do regime servem especificamente para forçar a população iraniana a ser submissa, para fomentar seu enriquecimento próprio
As pessoas em todo o mundo vêm prestando mais atenção ao Irã neste ano. Isso ocorre sobretudo devido às negociações e ao pacto em torno do programa nuclear daquele país. Para mim, a única razão é porque meu irmão Jason Rezaian está na prisão no Irã há 370 dias.
Jason é correspondente do jornal "Washington Post" em Teerã. Desde 22 de julho de 2014 ele é mantido em prisão solitária, por meses a fio é interrogado diariamente e ameaçado com detenção por tempo indeterminado, consequências negativas para sua família e até de ser condenado à morte.
Por quê? As "evidências" apontadas pelo Irã para justificar a prisão são um e-mail que Jason enviou para pedir um visto americano para sua mulher, um formulário na internet que ele preencheu para contatar a equipe de transição de Obama, em 2008 –declarando o desejo de ajudar a melhorar as relações entre EUA e Irã–, e e-mails enviados a amigos e a colegas sobre, entre outros temas "perigosos", a taxa de câmbio da moeda iraniana.
Essas são as justificativas apresentadas pelo Irã para roubar mais de um ano da vida de alguém.
Ainda não encontrei neste último ano um só jornalista que trabalhou no Irã e que não tenha uma história de interrogatórios, ameaças e até dias ou meses de detenção.
Conheci empresários que me contaram histórias de seus funcionários serem detidos durante meses devido a reuniões públicas dos executivos de suas empresas. Conversei com pessoas acusadas e condenadas por crimes com base em posts escritos por terceiros no Facebook!
Que ninguém se engane: as pessoas que mantêm Jason preso sabem que ele é inocente.
Os representantes eleitos do Irã que conversam com o Departamento de Estado americano não têm controle sobre esses elementos da liderança iraniana, que não são "elementos divergentes" do regime. Estão ali especificamente para forçar a população iraniana a ser submissa, para fomentar seu enriquecimento próprio, e agem sem moderação para alcançar essas metas.
Essas pessoas aparentemente aprovaram o acordo histórico que permite ao Irã "normalizar as relações". O presidente e o ministro do Exterior iraniano nem sequer fingem influenciar essas partes do governo que não são eleitas e que não prestam contas a ninguém. Aliás, dependem delas para conseguir a aprovação final do acordo –e são elas que vão se vingar de qualquer organização comercial que ameaçar seu controle sobre a economia.
O Brasil é o quarto maior parceiro comercial do Irã, e esse acordo histórico, se for sancionado, aumentará as oportunidades de negócios entre os dois países.
Enquanto a população iraniana festeja o que promete ser uma bênção para sua economia, os responsáveis pela prisão de Jason contam sua riqueza recém-obtida e se alegram por terem sido tirados das listas de sanções internacionais
O que é certo é que haverá maior envolvimento comercial do mundo com o Irã, mas também mais estrangeiros presos, interrogados e encarcerados pelo governo iraniano sem razão alguma, apenas o desejo do Irã mostrar ao mundo que pode fazer o que bem entender.