EDITORIAIS
Cenários argentinos
A sucessão da presidente da Argentina, Cristina Kirchner, começou a ser definida no domingo (9), com as disputas primárias do país.
Realizadas por voto direto e obrigatório, as prévias não só definem os candidatos que irão se enfrentar nas eleições gerais mas também funcionam como grande ensaio para o pleito, marcado para o dia 25 de outubro.
O primeiro lugar na votação de domingo coube à chapa governista "Frente para a Vitória", que lançou apenas um nome, Daniel Scioli. O herdeiro político de Cristina e governador da província de Buenos Aires recebeu 38,5% dos sufrágios.
Tendo apresentado três candidatos, a coalização oposicionista "Mudemos" alcançou 30% dos votos, com destaque para o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri.
Na terceira colocação (com 20,5%) ficou a "Unidos por uma nova Argentina", liderada por Sergio Massa, peronista que há dois anos deixou as hostes governistas.
Comparados com os resultados das primárias de 2011, os números de hoje mostram uma desidratação do kirchnerismo, força dominante na política argentina nos últimos 12 anos, primeiro com Néstor Kirchner e depois com Cristina.
Há quatro anos, a presidente obteve 50% dos votos, ante 12% do adversário mais próximo, abrindo caminho para uma vitória fácil.
Agora o pleito se revela mais imprevisível, com a possibilidade de um inédito segundo turno –na Argentina, a disputa termina no primeiro turno se alguém registrar ao menos 45% dos sufrágios, ou se o primeiro colocado chegar a 40% e superar o segundo por pelo menos dez pontos.
O resultado, de todo modo, está longe de ser um desastre para a candidatura governista.
Vitorioso em 20 das 24 províncias argentinas, Daniel Scioli sai da disputa prévia como favorito. Ademais, em relação à votação dirigida especificamente a Mauricio Macri, a diferença chega a 14 pontos.
Durante a campanha, o proponente kirchnerista certamente fará de tudo para conquistar os sufrágios que lhe permitiriam vencer no primeiro turno –e a divisão entre os oposicionistas pode ajudá-lo nesse esforço. Um segundo turno polarizaria a disputa, aumentando as chances de derrota governista.
A tarefa não parece impossível. Sobretudo quando se leva em conta que a considerável vantagem de Scioli já foi obtida num contexto de turbulência econômica –projeta-se contração de 0,3% do PIB em 2015 e a inflação passa de 30%– e seguidas denúncias de envolvimento de membros do governo em casos de corrupção e outros crimes.