EDITORIAIS
Negligência em trânsito
Os números assustam: todos os dias, contabilizam-se cerca de 120 mortos e mil feridos no trânsito brasileiro. Em 2013, essa violenta rotina produziu um saldo absurdo de 42,3 mil vidas interrompidas.
Deveriam provocar reação imediata e vigilância constante. Nas últimas décadas, no entanto, sucessivos governos, nas três esferas da administração, têm tratado o tema com inexplicável negligência.
Basta dizer que, em 1980, o Brasil exibia uma taxa de mortes no trânsito de 17 por 100 mil habitantes, menor que a da Austrália, dos EUA e da França e equivalente à da Itália, da Espanha e da Polônia.
Três décadas depois, em todos esses países a taxa foi reduzida para menos de 10 mortes por 100 mil, ao passo que, no Brasil, ela aumentou para 22 por 100 mil.
Ressalvada a influência de fatores como mudanças demográficas e tamanho da frota, o sucesso dessas nações no combate à carnificina no trânsito não tem segredos.
Trata-se de um trabalho de longo prazo que passa por uma eficiente engenharia de tráfego, intensas campanhas educativas, fiscalização ininterrupta, incremento em primeiros socorros e rigor punitivo.
No Brasil, esse esforço, quando existe, costuma ser insuficiente e descoordenado. As reduções no número de mortes verificadas nos últimos 20 anos, por exemplo, vieram sempre a reboque do endurecimento legislativo, mas foram revertidas logo depois, com o afrouxamento da fiscalização.
Falta ao país sobretudo uma verdadeira política pública de trânsito, que institua um plano nacional de redução de mortes em ruas e estradas, com objetivos, responsabilidades e orçamento definidos.
Nesse sentido, merece apoio a iniciativa do governo de São Paulo de lançar um movimento pela segurança no trânsito. Anunciadas por Geraldo Alckmin (PSDB) na quinta (20), as ações visam reduzir a letalidade das vias paulistas, responsáveis, em 2013, por 6.564 mortes.
As medidas vão desde a criação de um mapa da violência no trânsito, que ajudaria a prevenir acidentes, até a ampliação das equipes de resgate médico, passando pela intensificação de campanhas educativas e de parcerias municipais.
Para ter alguma chance de ser exitosa, a iniciativa precisa, no mínimo, sair do papel. Alckmin propôs um plano com o mesmo objetivo no início de 2013, mas as ações não foram para a frente.
Passa da hora de um esforço concertado e efetivo das autoridades nacionais para reverter uma realidade tão cruel quanto persistente.