Ruy Castro
Epítetos
RIO DE JANEIRO - Há dias, Emerson Sheik, atacante do Flamengo, levou uma botinada de um jogador do Vasco. O juiz marcou falta contra o Flamengo. Sheik reclamou e recebeu cartão amarelo. Ao fim do 1º tempo, entrevistado pela TV Globo, definiu o juiz como "uma merda". O STJD tomou nota e requisitou a fita. Pela mesma Globo, domingo último, Sheik pediu desculpas ao juiz. Para nada –provavelmente será punido do mesmo jeito, com a suspensão por vários jogos.
Mário Magalhães, em seu blog no UOL, classificou a frase de Sheik como uma manifestação de opinião. Castigá-lo será uma medida inconstitucional, ferindo um direito democrático garantido pela Constituição. O STJD deveria ficar de fora e o juiz, se quiser, que vá à Justiça comum contra o jogador. Mas é claro que não será assim.
No ano passado, Sheik já foi punido por aplicar à CBF um epíteto parecido: "É uma vergonha". A CBF –órgão que protege os árbitros dos erros que eles cometem contra os clubes que lhes pagam os salários– é presidida por um homem que, por via das dúvidas, está evitando botar o pé fora do país.
Há três semanas, o senador Fernando Collor, da tribuna do Senado, chamou o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, de "filho da puta". Janot é um dos responsáveis pela Operação Lava Jato, que acusa Collor de ter recebido milhões do esquema de corrupção da Petrobras. O Ministério Público poderia ter tomado nota e requisitado a fita –afinal, ainda deve haver um resíduo de exigência de decoro parlamentar no Congresso. Mas, não. A fala de Collor não entrou para os anais e parece ter sido apagada.
Eu achava que ofender da tribuna o procurador-geral da República era mais grave do que esbravejar contra um juiz de futebol. Mas Collor só corre o risco de ser punido se disser que o juiz tal ou a CBF é "uma merda".