Ruy Castro
O mistério do 221-B
RIO DE JANEIRO - Talvez fosse o caso de se chamar o próprio Sherlock Holmes. A polícia britânica quer saber a quem pertence o quarteirão de Londres onde se situa o nº 221-B da Baker Street, endereço em que, segundo o cânone –os 56 contos e quatro romances de Sir Arthur Conan Doyle–, o detetive dividiu o 2º andar com seu amigo, o Dr. Watson, de 1881 a pelo menos 1914. Tudo indica que o proprietário seja um certo Rakhat Aliyev, da polícia secreta do Cazaquistão e enteado do presidente daquele país. Mas Aliyev foi encontrado morto este ano numa prisão na Áustria.
Na verdade, não importa muito a quem pertença o imóvel, ocupado hoje por um bem sucedido Museu Sherlock Holmes. Sherlock nunca morou ali. O atual 221-B da Baker Street não é o mesmo do tempo do detetive. Aliás, naquele tempo, a rua nem tinha um 221-B –era curtinha, com 85 prédios de quatro andares numerados continuamente, daí a numeração acabar no 85. Em 1921, a York Street, sua continuação, lhe foi incorporada e ela cresceu. Os prédios foram renumerados e surgiu esse 221, que tem tanto a ver com Holmes quanto a casa da mãe Joana.
Para os sherlockianos, a questão é: se Holmes de fato viveu na Baker, e Conan Doyle apenas inventou esse número para evitar problemas, qual dos prédios originais corresponde às suas descrições? A principal fonte é o conto "A Aventura da Casa Vazia", em que ele descreve o percurso de Watson pelas ruas próximas até chegar em casa. Mas os sherlockianos nunca entraram em acordo. E, mesmo que entrassem, muitos daqueles prédios caíram sob as bombas alemãs ou já foram demolidos.
Já estive nesse 221-B em que funciona o museu. Sabia que era de araque, mas gostei. Velho leitor de Sherlock, conheço tudo que aconteceu entre ele e Watson.
E posso garantir que dormiam em quartos e camas separados.