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Fotografia da crise
As fotografias de uma criança estirada nas areias da praia de Bodrum, na Turquia, têm causado comoção mundial desde quarta-feira (2). Aylan Kurdi, de três anos, morreu com mais 11 pessoas após o naufrágio de duas pequenas embarcações no mar Mediterrâneo.
O grupo partira da Síria, fugindo do conflito que há mais de quatro anos destrói o país, e almejava alcançar a ilha de Kos, na Grécia.
As trágicas imagens tiveram o efeito de escancarar ao mundo a crise de refugiados que desesperadamente buscam asilo na Europa. Neste ano, mais de 300 mil pessoas tentaram chegar ao continente por meio de perigosas travessias marítimas. Quase 3.000 pereceram no trajeto.
A soma de conflitos e perseguições em países como Síria, Afeganistão, Iraque, Eritreia, Nigéria e Somália vem provocando uma fuga em massa de suas populações e compõe parte do que o Alto Comissariado da ONU para Refugiados classifica como a maior crise imigratória desde a Segunda Guerra.
Após a divulgação das fotografias do pequenino Aylan, líderes europeus sentiram-se constrangidos a reagir de forma imediata.
A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, e o presidente da França, François Hollande, produziram na quinta-feira (3) uma declaração conjunta na qual clamaram por um mecanismo que permita distribuir os refugiados por todos os 28 países da União Europeia.
Pediram, ademais, a criação sem demora de centros de recepção na Itália e na Grécia, por onde chega a esmagadora maioria dos que buscam asilo.
O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, cujo governo tem combatido iniciativas de repartição de refugiados pelas nações da UE, declarou na sexta-feira (4) que seu país aceitará receber milhares de sírios que vivem em campos das Nações Unidas.
Reações à parte, o fato é que a Europa ainda não conseguiu desenvolver uma resposta articulada para a crise. Tampouco é claro neste momento se o bloco conseguirá superar as diferenças entre seus membros em relação ao tema.
Ao mesmo tempo, cresce a pressão internacional por maior solidariedade europeia. Na sexta, a ONU pediu à UE para que receba 200 mil refugiados em um programa de realocação em massa.
O continente terá em breve mais uma chance de se debruçar sobre a questão. Marcada para o dia 14 de setembro, a reunião de ministros da Justiça e do Interior da União Europeia tem a missão de oferecer respostas para uma crise que se torna mais aguda a cada dia.