EDITORIAIS
Público e notório saber
Até os anos 1960, muitos colégios oficiais integravam a elite do que hoje se chama ensino médio. Com poucas exceções, redes estaduais e municipais perderam terreno para escolas particulares e se tornaram sinônimo de educação de baixa qualidade.
Estariam as universidades públicas enveredando pelo mesmo caminho? A hipótese foi levantada por Rogério Meneghini e Estêvão Gamba no caderno especial "Campus Minado", que traz a edição 2015 do Ranking Universitário Folha (RUF). Ainda que não permita conclusão inequívoca, o próprio RUF dá pistas a respeito.
Tome-se a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Desenvolvendo-se à sombra da excelência da Escola Paulista de Medicina, ela retrocedeu dez posições na lista, do 12º para o 22º lugar.
Seria exagero tomar a Unifesp como representativa do conjunto de universidades públicas e falar em decadência generalizada. Federais e estaduais dominam o RUF até a 50ª posição, pelo menos, e assim permanecerão por bom tempo.
Em muitos cursos específicos, porém, as universidades privadas tomam o lugar das públicas. É o caso da FGV, que ultrapassou UFRJ e UFMG em administração, área que viu ainda o Insper saltar da 36ª para a 8ª colocação. O 2º lugar de propaganda no RUF ficou com a ESPM-SP. Em odontologia, o 4º foi para a São Leopoldo Mandic.
A maior parte do recuo da Unifesp, cabe anotar, se deu na avaliação do mercado de trabalho. Pela metodologia do RUF, esse quesito pesa mais (36%) na pontuação final de cursos isolados do que na de universidades propriamente ditas (18%), na qual prepondera a qualidade da pesquisa (42%).
Portar um diploma da USP (1º lugar no RUF) ou de várias universidades públicas sempre foi passaporte para emprego em qualquer área. Em especial nos cursos mais profissionalizantes, todavia, o prestígio conferido por seus méritos em pesquisa –quase inexistente nas particulares– parece perder importância aos olhos de empregadores.
Claro está que a crise de financiamento nas instituições oficiais, resultado do estrangulamento orçamentário do Estado ou do descontrole administrativo interno, contribui sobremaneira para empanar o notório brilho dessas instituições.
Tampouco ajuda que docentes, alunos e funcionários promovam greves que só prejudicam quem quer estudar e pesquisar.
Enquanto não se derem conta de que o valor do saber lhes é mais crucial que o valor das verbas, as universidades públicas estarão cortejando a própria ruína.