Rodolfo Landim e Rodrigo Tostes
Os desafios para o futebol durante a crise
O momento do país exige cada vez mais dos dirigentes: experiência, articulação empresarial e capacidade de execução comprovadas
O futebol brasileiro vive um momento de profundas mudanças. Em meio à grave crise econômica que o país atravessa, os clubes precisarão praticar uma nova forma de gestão.
A aprovação do Profut (Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro) no Congresso, apesar de positiva para auxiliar na equação dos problemas com o pagamento de impostos atrasados, fará com que os times tenham que adotar uma rigorosa disciplina no uso de seus recursos para a realização de custos operacionais e investimentos.
Dentro desse conceito de responsabilidade financeira e de aprimoramento de gestão, o Flamengo, então sob nosso comando administrativo/financeiro, iniciou em 2013 um programa de ajustes que nos possibilitou equacionar dívidas antigas e pagar despesas correntes em dia.
Conseguimos um importante resgate de credibilidade e reputação para o clube mais popular do Brasil nos colocando em situação privilegiada para enfrentar tempos difíceis. Segundo dados do Itaú BBA, a dívida total dos 23 maiores clubes do Brasil chegou a R$ 4,5 bilhões em 2014, o que representou um aumento de 22,8% em relação a 2013.
Ao mesmo tempo, vimos uma retração de investimento na ordem de 23,5%. Já o Flamengo, graças a um aumento significativo que conseguimos nas receitas de marketing e um rigoroso controle de despesas que implementamos, obteve em 2014 o maior lucro da história do futebol brasileiro, com R$ 64,311 milhões.
O Ebtida (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) subiu 37% entre 2013 e 2014, chegando a R$ 117 milhões. No ano passado, o Flamengo conseguiu o valor histórico de R$ 347 milhões de receita bruta, com 27% de crescimento em relação ao ano anterior e 64% acima do resultado de 2012.
O esforço que fizemos em nosso período de administração permitiu o pagamento de R$ 224 milhões em dívidas –R$ 138 milhões do principal e R$ 86 milhões de juros líquidos–, fazendo com que a divida do clube caísse de R$ 750 milhões (2012) para R$ 577 milhões (2014).
Os direitos de TV, ao contrário da maioria dos clubes, não representam hoje mais da metade da receita. Com o crescimento das arrecadações com marketing e competições, o seu percentual caiu de 52% em 2011 para os 33% de 2014.
Ao nos desligarmos da atual administração do Flamengo para apoiar a candidatura de Wallim Vasconcellos nas eleições de dezembro, podemos afirmar que é possível mudar a forma de gerir o futebol brasileiro. Práticas do passado, ainda vigentes em vários clubes, precisam ser definitivamente descartadas.
É hora de profissionalizar ainda mais a gestão. É hora de se valorizar quem sabe administrar. Não se pode aceitar que instituições que fazem parte da paixão dos brasileiros, muitas delas com faturamento superior a R$ 200 milhões/ano, sejam gerenciadas com aventuras ou amadorismo. O trabalho que fizemos em nosso clube do coração é uma prova de que isso é possível. O Flamengo já andou um bom caminho. Não se pode permitir retrocesso algum.
O momento exige cada vez mais de seus dirigentes esportivos: experiência, articulação empresarial e capacidade de execução comprovadas. Só assim o futebol brasileiro conseguirá retomar a liderança que nunca deveria ter perdido.