EDITORIAIS
Gargalo da reciclagem
A cidade de São Paulo produziu só no ano passado cerca de 4 milhões de toneladas de lixo. Dado o desafio que envolve a coleta, o transporte e o descarte adequado de tamanha massa de detritos, o avanço da reciclagem é mais que um compromisso ambiental.
Trata-se também de estratégia para dar maior sobrevida aos aterros sanitários do município –cujos custos de construção e manutenção são altíssimos.
A metrópole paulistana recicla hoje meros 2,5% de todo o lixo gerado pela população, valor ainda muito distante dos 10% prometidos pelo prefeito Fernando Haddad (PT) durante sua campanha eleitoral –e que constam do Plano Municipal de Resíduos Sólidos lançado em 2014.
Verdade que o progresso já obtido pelo alcaide não é desprezível. A taxa de reciclagem em São Paulo mais do que dobrou nos últimos dois anos e meio –no final de 2012, o índice era de pouco mais de 1%.
Também é fato, contudo, que muito mais poderia estar sendo feito. Com a recente inauguração de duas centrais mecanizadas de triagem, a cidade ampliou para 750 toneladas/dia sua capacidade de processar material reciclável.
Ocorre que o coletado pelos serviços municipais não ultrapassa 240 toneladas/dia. A consequência disso, como mostrou reportagem desta Folha, é que a estrutura de reaproveitamento de materiais da capital está subutilizada.
O gargalo se encontra sobretudo no início da cadeia. O aumento da quantidade de material recolhido esbarra, em primeiro lugar, no fato de ainda não haver coleta seletiva em toda a cidade de São Paulo.
Hoje, 85 dos 96 distritos dispõem do serviço, mas ele é feito de forma integral em apenas 46. Além disso, a opção pela reciclagem implica mudanças de hábitos da população e conhecimento daquilo que pode ou não ser reprocessado. São essenciais, nesse sentido, campanhas permanentes de educação.
Para tornar esse trabalho mais efetivo, uma opção é descentralizar os esforços, distribuindo a tarefa entre as subprefeituras da capital. A experiência da unidade da Lapa pode apontar um caminho.
Ali, uma parceria com ONGs promoveu a distribuição de informativos sobre horários da coleta e locais de destinação, além de encontros com lideranças comunitárias, escolas e associações comerciais.
Se apenas culpar a baixa adesão da população –como tem feito– pelas deficiências da reciclagem, a gestão Fernando Haddad acabará por ampliar sua lista de resultados esquálidos na comparação com as metas de campanha.