EDITORIAIS
Dívida emergente
A turbulência no mercado financeiro internacional tem crescido nos últimos meses. Bolsas em queda, juros em alta para empresas de diversos países e dólar fortalecido refletem a incerteza quanto ao impacto de dois fatores –o esperado aperto monetário nos EUA e a transição chinesa para uma etapa de menor crescimento econômico.
Dito de outra maneira, aguarda-se a mudança do padrão de funcionamento da economia mundial em vigor desde a crise de 2008, no qual países desenvolvidos mantêm juros próximos de zero para combater a recessão e a China, em expansão veloz, favorece as exportações e a renda dos demais emergentes.
Tal combinação impulsionou o fluxo de dinheiro rumo ao mundo em desenvolvimento, em especial na forma de financiamentos a empresas. Entre 2004 e 2014, segundo pesquisa do FMI, o endividamento empresarial nos principais emergentes saltou de US$ 4 trilhões para US$ 18 trilhões, na maior elevação já contabilizada.
O documento publicado pelo organismo não detalha montantes por países, mas menciona que o aumento ocorrido no Brasil de 2007 para cá só é superado pelos de China, Turquia e Chile.
A mera expectativa de reversão da política americana de juro zero tem provocado rápida alta do dólar –exacerbada, aqui, pela crise doméstica– e reforçado as preocupações com a vulnerabilidade das empresas à variação cambial. No cotidiano corporativo, os temores significam maior custo para a renovação dos empréstimos.
Adiciona-se às incertezas a freada da China, de intensidade ainda pouco previsível. Sofrem com a desaceleração do gigante asiático tanto os países fornecedores de matérias-primas, caso brasileiro, quanto os de bens industriais, como Coreia do Sul e Taiwan.
Numa evidência da piora das perspectivas para os emergentes, o Instituto de Finanças Internacionais previu nesta quinta (1º) que haverá neste ano saída líquida de capital externo desse grupo de países, o que não ocorre desde 1988.
Como resposta à deterioração do cenário, que pode prejudicar a economia norte-americana, o Fed (banco central dos EUA) adiou a alta de juros esperada para o mês passado. A maior parte dos analistas, porém, considera que o alívio será apenas temporário.
O Brasil tem sido um foco especial de preocupação, dada a fragilidade das contas públicas e o alto endividamento de empresas, principalmente a Petrobras. A completa desorientação dos planos do governo contribui para manter o país no rol dos mais frágeis.