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Historiador Evaldo Cabral de Mello, 78, é eleito imortal
Candidato único, pernambucano é conhecido por estudos do domínio holandês em seu Estado no século 17
Em eleição na qual era o único candidato, o historiador e diplomata pernambucano Evaldo Cabral de Mello, 78, foi eleito nesta quinta (23) o novo titular da cadeira 34 da ABL (Academia Brasileira de Letras), que pertenceu ao escritor baiano João Ubaldo Ribeiro, morto no dia 18 de julho.
Evaldo obteve 36 dos 37 votos. Houve uma abstenção. Vinte acadêmicos estavam presentes, e 16 votaram por carta.
Homem de personalidade discreta, Evaldo resistia aos convites para a ABL, até que os amigos Eduardo Portella, Alberto da Costa e Silva e Alberto Venancio o convenceram. "Me deixei levar um pouco", disse, lacônico, numa cerimônia após a vitória.
A votação expressiva e a falta de oponentes são sinais do prestígio do qual Evaldo goza entre os acadêmicos. Ele é considerado um dos maiores historiadores do país.
Evaldo é especialista em história regional e conhecido por estudos do período de domínio holandês em Pernambuco no século 17, para os quais estudou o holandês antigo. "Mas já esqueci tudo."
Evaldo destoa da historiografia tradicional, que costuma focar no Sudeste.
"Ele tem visões originais e próprias. Sobre o processo de independência do Brasil, ele dá grande relevo aos movimentos locais e provinciais pela independência, em contraste com a historiografia tradicional que põe o centro dos acontecimentos no eixo Rio-São Paulo", explica o historiador Alberto da Costa e Silva.
Irmão do poeta João Cabral de Melo Neto, Evaldo nasceu no Recife em 1936. Cursou filosofia da história em Londres e Madri. "Era uma época em que você achava que encontrava na história uma chave para entender o destino humano", diz ele, que também foi diplomata.
Seu primeiro livro, "Olinda Restaurada" (1975), foi escrito sob a luz da Escola dos Annales (que não estuda só os grandes fatos e sob o viés político), a qual Evaldo admirava.
É autor de obras como "Rubro Veio" (1986), sobre a restauração pernambucana, e "O negócio do Brasil" (1998), que trata dos fatores econômicos e diplomáticos na disputa entre portugueses e holandeses.
Diplomático, se negou a comentar as eleições presidenciais. "Historiador não tem que falar sobre o presente."