Campanhas precisam mudar, dizem estudiosos
Para pesquisadores, custo e financiamento das campanhas precisam sofrer uma revisão
O custo e o modelo de financiamento das campanhas eleitorais deveriam estar entre as prioridades da reforma política, segundo pesquisadores ouvidos pela Folha no encontro da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais). Mas há divergências.
"O problema mais grave é o custo da campanha", afirma o cientista político Cláudio Couto, da FGV de São Paulo: "Todos os problemas são determinados por esse".
Com três menções, a mudança mais lembrada foi a do estabelecimento de um teto para o financiamento de empresas, hoje as maiores doadoras de partidos e candidatos --mas não a proibição.
Neste ano, a maioria do Supremo Tribunal Federal considerou que doações de empresas a partidos são ilegais. O julgamento não acabou.
Autor de estudo que estabelece uma triangulação entre doações de grandes empresas, diretórios de partidos e os candidatos mais votados, o cientista político Rodrigo Horochovski (UFPR) afirma que o financiamento público exclusivo "fará o partido dar as costas para a sociedade".
"É interessante ter a conexão entre financiador e partido, mas poderia existir um limite sobre o volume de doações. Hoje é muito injusto. Como o teto é o percentual do faturamento [2%], grandes empresas --e também pessoas ricas-- têm um limite muito maior de gastos", diz.
Outro defensor do teto é Manoel Santos (UFMG). Ele exibiu pesquisa segundo a qual parlamentares com alto financiamento de indústrias tendem a desobedecer o partido quando os interesses do doador são contrariados: "Com o teto, um setor específico não poderá mandar no mandato do parlamentar".
O cientista político Fábio Wanderley Reis (UFMG) foi o único a defender uma "experimentação" com o financiamento público exclusivo, para "neutralizar o peso do dinheiro privado nas eleições".
Os estudiosos são contra fazer um plebiscito sobre a reforma política. Para Emerson Cervi (UFPR), "não há volume suficiente de informação para a população tomar uma decisão. Então é perigoso".