Aliado de Renan se afasta de empresa ligada à Petrobras
Acusado por delator, Sérgio Machado se licencia da presidência da Transpetro
Saída de executivo foi imposta por auditoria externa como condição para aprovar balanço trimestral da estatal
Diante de um impasse que ameaçava a aprovação das contas da Petrobras e sob pressão por causa das investigações da Operação Lava Jato, o presidente da Transpetro, Sérgio Machado, anunciou nesta segunda (3) a decisão de se licenciar do cargo.
Afilhado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), ele se afastou da subsidiária da Petrobras depois que a auditoria externa que examina os números da estatal, a americana PricewaterhouseCoopers, impôs sua saída como condição para aprovar o balanço do terceiro trimestre da companhia.
A decisão foi antecipada pela Folha nesta segunda. Ex-senador, Sérgio Machado foi nomeado para a Transpetro logo depois da chegada do PT ao poder, em 2003. Ele foi acusado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de participar do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. Machado nega a acusação.
Sua licença foi discutida pelo conselho de administração da Petrobras na sexta (31), mas a reunião foi suspensa depois que os auditores avisaram que não aprovariam o balanço da estatal. Machado falou então com peemedebistas e decidiu se afastar dizendo não querer atrapalhar as investigações.
Nas palavras de um aliado do governo, ele não aceitava sair pela "porta dos fundos", demitido pela presidente Dilma Rousseff. Na avaliação de assessores do Planalto, Machado dificilmente voltará ao cargo, assumido interinamente pelo engenheiro mecânico Claudio Ribeiro Teixeira Campos, diretor de gás natural da empresa.
Indicado no início do governo do ex-presidente Lula, Machado foi mantido na função por Dilma. Ele sofreu desgaste após ser citado por Paulo Roberto Costa em um dos depoimentos que ele prestou após fazer acordo para colaborar com as investigações em troca de redução na pena.
O ex-diretor da Petrobras disse ter recebido de Sérgio Machado R$ 500 mil como propina após uma licitação da Transpetro para contratação de navios na área de abastecimento, que Costa dirigia.
Durante a campanha eleitoral, Dilma cogitou demitir Machado, mas foi pressionada pelo PMDB. Sentindo-se novamente ameaçado, o partido se movimentou para evitar a demissão de Machado.
Líderes do PMDB cobraram do Planalto tratamento isonômico, argumentando que, se Machado fosse demitido, o tesoureiro do PT, João Vaccari, também citado por Costa, deveria ser afastado do cargo que ocupa no conselho de administração de Itaipu.
Os auditores da PricewaterhouseCoopers decidiram pedir o afastamento de Machado após a SEC, xerife do mercado de ações nos EUA, abrir investigações sobre irregularidades na Petrobras e recomendar mudanças na administração da Transpetro.
Se o balanço da Petrobras fosse aprovado por seu conselho de administração sem aval da auditoria, isso despertaria suspeitas dos investidores. O jeito foi forçar a saída de Machado, confirmada por nota assinada por ele próprio.
Ele diz que decidiu de "forma espontânea requerer licença sem vencimento pelos próximos 31 dias", acrescentando que tomou a iniciativa "para que sejam feitos, de forma indiscutível, todos os esclarecimentos necessários".
Na nota, Machado diz que não responde a processo no Tribunal de Contas da União e que não é réu em ação penal. Afirma que, durante sua gestão (2003 a 2013), o faturamento da empresa aumentou em média 13,5% ao ano.
Ele diz que foi "vítima nas últimas semanas de imputações caluniosas feitas pelo ex-diretor da Petrobras", lembrando que o teor da acusação "ainda não foi objeto sequer de apuração pelos órgãos públicos competentes".