Deputados tiraram R$ 59 mi do bolso em suas campanhas
Cinco candidatos que usaram recursos próprios na eleição gastaram mais do que o salário que receberão no mandato
Eleitos que recorreram à estratégia afirmam que atitude garante independência contra pressões de empresas
Cinco deputados federais eleitos declararam ter gasto do próprio bolso na campanha valor superior ao que receberão em quatro anos de mandato na Câmara.
No total, os 513 deputados eleitos declararam que gastaram dos próprios bolsos R$ 58,9 milhões na eleição. O valor é 8% do total da despesa de campanha dos que obtiveram vaga, R$ 733 milhões.
Os cinco líderes da lista dizem que, ao bancar boa parte da própria campanha, podem atuar de forma independente no Congresso, sem a pressão de financiadores.
Afirmam ainda que não esperam retorno financeiro com o mandato. Três deles foram reeleitos e aumentaram o patrimônio no último mandato.
Membro do Conselho de Ética, Sérgio Zveiter (PSD-RJ), foi o que mais gastou recursos próprios: R$ 3,8 milhões (66% da sua campanha). É mais que o dobro do R$ 1,4 milhão que receberá em salários brutos em quatro anos.
"Os gastos próprios relativos à campanha têm como objetivo respaldar a independência e a autonomia do meu mandato. Acredito na possibilidade de contribuir para o nosso país", disse ele.
Em 2010, contudo, Zveiter repassou só R$ 50 mil em recursos próprios para sua campanha, que custou R$ 915 mil. Em quatro anos, ele mais que quadruplicou seu patrimônio. Subiu de R$ 3,2 milhões para R$ 15 milhões.
"A evolução patrimonial é compatível com a minha remuneração como advogado, profissão que exerço há mais de 30 anos", disse Zveiter.
Também advogado, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG) disse esperar perder patrimônio. Ex-membro do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ele gastou R$ 3 milhões do próprio bolso (80% da campanha).
"Além de não me dar o retorno do que gastei, me fará deixar de ganhar na advocacia também um valor considerável [...] Mas a lógica não é financeira. É o preço da ideologia, do sonho, da vontade, da retribuição para a sociedade", disse ele.
NORMA
A lei eleitoral proíbe às pessoas físicas doações que excedam 10% da renda auferida no ano anterior à eleição. Mas abre exceção para o candidato que queira usar recursos próprios, impondo como único limite a previsão de gasto no início da eleição. Nenhum violou essa regra.
Conforme os dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), cerca de 70% dos deputados eleitos declararam ter gasto algum recurso próprio na campanha deste ano. A maioria investiu até R$ 100 mil.