Diálogo de Dilma com sociedade foi falho, avalia ministro
Em entrevista, Gilberto Carvalho diz que petista não manteve boas relações de Lula na política e economia
Secretário-geral diz que movimentos sociais não tiveram demandas atendidas, mas divide culpa com o Congresso
Em entrevista à BBC Brasil publicada nesta segunda (10), o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou que o diálogo da presidente Dilma Rousseff com a sociedade civil foi deficiente nos últimos quatro anos.
Para ele, a petista não manteve as mesmas relações que o ex-presidente Lula com os "principais atores na economia e na política" e não conseguiu atender as demandas dos movimentos sociais.
"A reforma agrária e a questão indígena avançaram pouco. A reforma urbana não foi o que os movimentos esperavam", disse Carvalho, que indicou, contudo, que há disposição da líder para melhorar nesse aspecto.
O secretário-geral defende o fortalecimento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e da Funai (Fundação Nacional do Índio) no próximo mandato.
Ao tratar de políticas para os indígenas, o ministro reconheceu que é preciso avançar no Planalto, mas também creditou a lentidão nas reformas à resistência no Congresso.
"Cresceu muito, e infelizmente só tende a crescer mais, uma resistência ideológica e econômica fortíssima à questão indígena, que se representa fortemente no Congresso", disse Carvalho.
Questionado se o governo teria fomentado essa postura ao governar com figuras como a senadora ruralista Kátia Abreu (PMDB-TO), o ministro disse que é "absurdo" atribuir tal culpa ao Planalto.
"A direita cresce porque cresce. Se eu restringir minha base àqueles que pensam como nós, não aprovamos nenhuma lei. Fazer aliança significa trabalhar com o adversário, digo, com o diverso", respondeu, num ato falho.
"Não foi por conta da Kátia Abreu que deixamos de avançar. Não avançamos porque faltou competência e clareza", afirmou.
COALIZÃO
O clima hostil ao governo no Congresso não será o mesmo em 2015, avalia Carvalho.
"Há uma repercussão ainda do processo eleitoral. A composição ministerial vai levar em conta a necessidade de contemplar essas forças no Congresso", disse.
Para o secretário-geral, a eleição mostrou que a militância está "disposta a ir para a luta" e que será preciso trabalhar com isso para aprovar medidas no Congresso.
O ministro disse não temer desdobramentos das investigações na Petrobras. "Quem já conviveu nesses últimos nove anos com esse clima não tem o que temer."
Questionado sobre a própria permanência no governo, desconversou. "Ela [Dilma] não está falando com ninguém sobre isso. Se ela me convidar a ficar no governo, vou ficar", afirmou.