Escândalo obriga estatal a fatiar seu balanço
Dados sairão em três etapas; executivos da empresa não se recordam de episódio similar
Diante da indefinição de quando terá o aval dos auditores independentes para divulgar as informações financeiras do terceiro trimestre, como exige a lei, a Petrobras decidiu que vai publicar os dados em três etapas. Executivos da empresa não se recordam de episódio semelhante nos últimos 20 anos.
Foram necessários três comunicados ao mercado, em menos de 24 horas, para que ficasse clara, enfim, a forma como pretende informar seu desempenho trimestral.
"Estão tentando minimizar o dano à imagem da empresa", disse Fábio Fuzetti, sócia da Antares Capital.
O adiamento do balanço derrubou as ações. Os papéis preferenciais cederam 2,94% no dia e 7,50% na semana, para R$ 13,20 cada um. Já os ordinários caíram 2,67% no dia e 7,19% na semana, a R$ 12,78.
Na noite de quinta (13), sem o parecer dos auditores da PwC e alegando necessidade de entender o real impacto das denúncias de corrupção levantadas pela operação Lava Jato, a empresa havia informado que só divulgaria informações em 12 de dezembro --o prazo legal encerrou-se nesta sexta-feira.
A PwC vinha pressionando a Petrobras a aprofundar as investigações sobre os desvios, ameaçando-a de não assinar as demonstrações, como de fato ocorreu.
Na segunda (17), a Petrobras vai apresentar informações sobre produção de petróleo e gás e refino. As informações financeiras agora sairão "até 12 de dezembro", sem aval da auditoria. A Petrobras diz que ainda não sabe quando divulgará o balanço auditado, como exige a lei.
"Caso persista o impasse sobre o balanço, a auditoria poderá vir a assiná-lo com ressalvas", disse Fuzetti.
O atraso na divulgação do balanço pode custar caro. Os contratos de emissão de títulos no exterior preveem prazo para divulgação sobre o endividamento da empresa. Caso a exigência não seja cumprida, os títulos podem ter o vencimento antecipado.
Segundo a Bloomberg, há US$ 11 bilhões em dívida no exterior que vencem de 2017 a 2023. Desses, US$ 3,5 bilhões, que vencem em 2023, exigem publicação de balanço em 90 dias depois do trimestre. Depois de mais 45 dias de tolerância, o vencimento será antecipado.
As denúncias podem trazer outro efeito --a perda do seu "grau de investimento", nota dada por agências de risco e que lhe dá o direito de captar dinheiro a juros menores. No mês passado a Moody's cortou sua nota, sem torná-la investimento de risco. "A tendência é que os indicadores piorem, aumentando o risco de ser rebaixada", diz Sérgio Lazzarini, do Insper.