Em depoimento, Lula diz que saiu da prisão no Dops 'como herói'
Ex-presidente, detido por 31 dias em 1980, afirmou que militares cometeram 'burrice'
Em depoimento à CNV (Comissão Nacional da Verdade), na segunda (8), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) relatou as greves que comandou em 1979 e 80 e o período de 31 dias que ficou preso na sede do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) em São Paulo.
"Em 79, nós [sindicalistas] ganhamos tudo, e eu saí como traidor. Em 80, nós perdemos tudo, e eu saí como herói", resumiu Lula, que falou por 50 minutos à psicanalista Maria Rita Kehl e ao sociólogo Paulo Sérgio Pinheiro, membros do grupo, no Instituto Lula, no Ipiranga.
Ele detalhou os dias que passou na carceragem do Dops, em 1980. "Os militares cometeram a burrice de me prender", afirmou. "O que aconteceu quando eles me prenderam? Foi uma motivação a mais para a greve continuar." O ex-presidente definiu como "prisão VIP" o tempo que passou atrás das grades. "O tratamento foi bom, porque o [então delegado Romeu] Tuma me tratou dignamente", disse.
A única vez em que Tuma teria ameaçado cortar regalias, de acordo com Lula, foi quando os presos fizeram greve de fome. O ex-presidente relatou que o então delegado foi à cela e disse que os presos não teriam mais acesso a jornais e rádio --ameaça que não chegou a cumprir.
PERSEGUIÇÃO
No fim dos anos 1970, de acordo com Lula, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC --presidido por ele à época-- foi monitorado por agentes da ditadura, que faziam campana em um imóvel à frente.
A casa do então líder sindical também foi monitorada por agentes, que ficavam dentro de um carro estacionado. "Às vezes a Marisa fazia um café e mandava levar para eles", rememorou Lula, aos risos. (ALEXANDRE ARAGÃO)