Funcionário da Petrobras colabora com investigações
Depoimento lança suspeitas sobre negócios feitos pela estatal na África e ex-diretor
Um relatório confidencial de 17 páginas da Polícia Federal indica que um funcionário de carreira "de mais de 30 anos" na Petrobras tem ajudado os investigadores da Lava Jato, indicando caminhos para investigações.
As informações foram prestadas pelo informante há nove meses. Parte do depoimento foi revelado pelo jornal "O Globo" na edição desta quinta-feira (11).
O funcionário é mantido no anonimato. Segundo a PF, ele se sentiu motivado a colaborar por estar "descontente com a administração da empresa e o sucateamento da Petrobras". Uma equipe de policiais federais de Curitiba (PR) foi até o Rio para encontrá-lo, em abril de 2014.
O informante afirmou que um ex-diretor da Petrobras, José Raimundo Pereira, que teria sido indicado pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, "teria enviado a Houston" (EUA) um homem de sua confiança "com o objetivo de realizar contratos de afretamento de navios" na refinaria de Pasadena.
Mas a sócia da Petrobras na refinaria, a Astra Oil, não aceitou que os contratos fossem fechados por desconfiar dos preços. A Petrobras então alugou navios no Golfo do México, "um dos projetos da Petrobras América".
O informante acredita que os aluguéis foram feitos a "um custo três vezes maior" na comparação com "serviços similares na região da Bacia de Campos", no Rio.
Sobre a compra da refinaria, o funcionário disse que a estatal "aproveitou-se dos termos técnicos e a alta complexidade do assunto para ocultar diversos aspectos obscuros nesta transação" que, segundo ele, foi "fraudulenta".
Ele disse que o lobista Fernando Soares, o Baiano, um dos presos pela Operação Lava Jato, participou do negócio "intermediando toda a negociação com a Astra Oil".
Sobre a Área Internacional da Petrobras, então chefiada por Nestor Cerveró, o informante sugeriu que a PF investigue negócios que contrariaram "diversos pareceres técnicos que os rejeitavam", sobretudo em Angola e Nigéria.
A Petrobras não havia se pronunciado até a conclusão desta edição. José Raimundo Pereira não foi localizado. A assessoria de Edison Lobão afirmou que ele conhece Pereira, mas que não o indicou para o cargo na estatal.