Delatora virou 'febre' nas redes sociais
Bastaram poucas horas nos holofotes para que Venina Velosa da Fonseca, 52, geóloga até então conhecida apenas em seu ambiente de trabalho, virasse febre nas redes sociais.
Na própria sexta-feira (12), dia em que o jornal "Valor Econômico" publicou que Venina alertou a atual direção da Petrobras sobre as irregularidades hoje constatadas na empresa, postagens favoráveis à denunciante se proliferaram no microblog Twitter, terminando com a expressão "#SomosTodosVenina".
A engenheira geóloga formada na turma de 1988 da Universidade Federal de Ouro Preto (MG) passou a infância na cidade mineira de Patos de Minas. No início dos anos 1990, ingressou na Petrobras, na área de Exploração e Produção.
Chegou a ser gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde dos negócios da Petrobras na Bacia do Solimões, onde, segundo ex-colegas, foi avaliada como boa gestora.
Conheceu Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras e delator da Operação Lava Jato, que apura as denúncias de corrupção na estatal, quando trabalhavam na diretoria de Gás e Energia da estatal, entre o fim dos anos 1990 e 2004. Ele acabou nomeando-a sua gerente-executiva.
PROJETOS
No cargo, por determinação de Costa, Venina foi responsável por apresentar o pedido de antecipação da entrega de Abreu e Lima para agosto de 2010, um ano antes do prazo previsto.
Segundo a apuração da Petrobras, a antecipação precipitou a contratação de empreiteiras em momento em que os projetos não estavam prontos, abrindo espaço para os gastos extras.
Em 2009, Venina denunciou um gerente de comunicação da área de abastecimento por supostamente ter autorizado gastos milionários sem comprovação de prestação de serviços.
O funcionário acabou demitido, depois de a Petrobras ter de fato comprovado as irregularidades.
Venina desentendeu-se com Costa nessa época e acabou sendo afastada da função, em 2009. No ano seguinte, foi enviada para chefiar o escritório de Cingapura.
Destituída há um mês e sem função gerencial, deverá ter seu salário reduzido pela metade. Seu retorno ao Brasil é previsto para esta semana, quando ela deve prestar depoimento sobre seu período na estatal.
As revelações de Venina deixaram a presidente da Petrobras, Graça Foster, extremamente irritada.
A Folha apurou que, ao saber da reportagem publicada pelo "Valor Econômico", Graça determinou a que as áreas jurídica e de comunicação preparassem uma nota que ajudasse a dilapidar a credibilidade da denunciante.
INVESTIGAÇÃO INTERNA
O trunfo era uma investigação interna feita pela Petrobras sobre as irregularidades na construção da refinaria de Abreu e Lima. Venina foi um dos onze responsáveis, apontados pela apuração, pelos gastos adicionais de R$ 4 bilhões nos contratos com as empreiteiras.
A nota informava que a funcionária havia perdido a função de diretora da Petrobras Cingapura, onde estava desde 2010, em função da apuração interna.
E que, por isso, "ameaçou seus superiores de divulgar supostas irregularidades caso não fosse mantida na função gerencial".