Novo ministro diverge de colega e fala em 'derrubar cerca de latifúndio'
Patrus (Desenvolvimento Agrário) quer acelerar reforma agrária em propriedades improdutivas
Para a ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), não existem mais latifúndios no Brasil
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias (PT), sugeriu nesta terça (6), ao tomar posse, que vai se empenhar para tentar acelerar a reforma agrária nos latifúndios improdutivos do país.
As declarações contrastam com o que disse a nova ministra da Agricultura, Kátia Abreu (PMDB), representante do agronegócio, segundo a qual não existem mais latifúndios no Brasil.
"Ignorar ou negar a existência da desigualdade e da injustiça é uma forma de perpetuá-las. Não basta derrubar a cerca dos latifúndios, é preciso derrubar também as cercas que nos limitam a uma visão individualista e excludente do processo social", discursou o ministro, sem citar a colega.
Patrus fez uma defesa enfática da função social da propriedade fundiária --preconizada na Constituição.
"Não se trata de negar o direito de propriedade que é uma conquista histórica e civilizatória. Trata-se de adequar o direito de propriedade aos outros direitos fundamentais, ao interesse público e ao desenvolvimento integral, integrado e sustentável do Brasil, o nosso bem maior."
As declarações reafirmam as divergências que têm marcado nos últimos anos a relação entre as duas pastas que cuidam da agricultura.
Em entrevista à Folha publicada nesta segunda (5), Kátia Abreu afirmou que não é preciso acelerar a reforma agrária no país e que o "latifúndio não existe mais". Ela assumiu o Ministério da Agricultura sob críticas de índios e de trabalhadores sem-terra.
A ministra, reeleita senadora no ano passado, era uma das principais vozes da bancada ruralista no Congresso Nacional.
Questionado após a posse se concorda com a afirmação da ministra, Patrus evitou criticar a colega. "Prefiro dizer que o Brasil tem grandes propriedades. A maioria delas está sendo corretamente explorada. E algumas são improdutivas [e devem ser alvo da reforma agrária]."
A assessoria da ministra não respondeu até a conclusão desta edição.
Na primeira gestão da presidente Dilma, houve constantes críticas do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que acusa o governo por ter, nos últimos quatro anos, diminuído as desapropriações de terra para reforma agrária. O governo argumenta que priorizou dar infraestrutura aos assentamentos já criados.
DESAPROPRIAÇÕES
Na posse de Patrus, porém, o MST avaliou positivamente suas declarações. Alexandre Conceição, da coordenação nacional, considerou que a defesa da função social da terra por Patrus é uma sinalização de atenção à reforma agrária e disse acreditar que o ministério pode voltar a expandir as desapropriações.
Conceição também criticou a titular da Agricultura. "Kátia Abreu é latifundiária e desconhece a realidade do país", afirmou.