Escândalo na Petrobras
PF prende ex-diretor por movimentação financeira suspeita
Nestor Cerveró, que comandou área internacional da estatal, foi detido ao desembarcar em aeroporto do Rio
No pedido de prisão, Procuradoria afirma não haver indicativo 'de que esquema criminoso foi estancado'
A Polícia Federal prendeu na madrugada de quarta (14) o ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró sob a acusação de que ele procurava blindar patrimônio obtido ilegalmente por meio da tranferência de bens para familiares.
Cerveró foi o terceiro ex-diretor da Petrobras detido na Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na estatal envolvendo empreiteiras e agentes públicos.
Desde dezembro, Cerveró é réu na Justiça Federal do Paraná sob a acusação de receber propina, e agora será alvo de um novo inquérito sobre lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
Detido no Aeroporto do Galeão, no Rio, quando retornava de uma viagem a Londres, o ex-diretor foi encaminhado à carceragem da PF em Curitiba (PR), onde prestará depoimento nesta quinta-feira.
Segundo o Ministério Público Federal no Paraná, autor do pedido de prisão, no fim de dezembro Cerveró iniciou os trâmites para fazer o resgate de um plano de previdência privada no valor de R$ 463 mil para posterior transferência para a filha dele.
O saque naquele momento levaria a um prejuízo de R$ 100 mil, conforme a instituição financeira. O resgate não foi feito, mas a conduta de levantou suspeita: "Poderia ser uma fuga ou tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tinha sido bloqueado", concluiu o delegado da PF Igor Romário de Paula.
A Procuradoria também citou transferências de três imóveis de Cerveró para seus filhos em junho. "Há evidências de que possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por só R$ 560 mil", relatou.
No pedido de prisão, a Procuradoria afirmou que "não há indicativos de que o esquema criminoso foi estancado", embora não tenha não apresenta provas ou indícios contra os atuais diretores e gestores da Petrobras.
Também fez comparações entre Cerveró e outros envolvidos em escândalos, como o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato, que fugiu para a Itália após condenação no caso do mensalão, e o deputado Paulo Maluf (PP-SP), acusado de manter dinheiro obtido ilegalmente escondido no exterior.
Na denúncia apresentada em dezembro, a Procuradoria apontou que o lobista ligado ao PMDB Fernando Soares, o Baiano, era representante de Cerveró no esquema.
Segundo os procuradores, ambos receberam US$ 40 milhões de propina em 2006 e 2007 para viabilizar contratação de navios-sonda para perfuração em águas profundas com o estaleiro Samsung Heavy Industries, pelo valor de US$ 586 milhões.
A prisão foi decretada pelo juiz Marcos Josegrei da Silva, em plantão. Foi registrada no dia 1º de janeiro, às 7h34. O magistrado titular da causa, Sergio Moro, está de férias.
Silva afirmou que o suspeito mostrou prosseguir com sua "sanha" criminosa ao tentar blindar patrimônio.
A PF esperou Cerveró embarcar no avião que o traria de Londres para deflagrar buscas nos imóveis dele no Rio na tarde de terça (13). Normalmente as ações de busca e apreensão da PF são iniciadas às 6h. Porém, no caso de Cerveró, a adoção do horário padrão poderia alertar o denunciado sobre sua prisão.
A PF tinha a preocupação de que ele poderia tentar fugir, pois tem cidadania espanhola, além da brasileira.
PT E PMDB
Foram alvo da medida dois imóveis no bairro de Ipanema e um no bairro de Humaitá, no Rio de Janeiro, e um no município de Petrópolis, onde foram apreendidos documentos.
Cerveró dirigiu a área internacional da Petrobras de 2003 a 2008, após ser indicado ao cargo com o apoio de petistas e peemedebistas.