Fórum é incendiado em retaliação a juiz no MA
Magistrado indeferiu pedido de afastamento do prefeito de Buriti
Ao menos 15 pessoas invadiram e atearam fogo no local; juiz usou arma para conter homem com machado
O processo de cassação do prefeito da pequena Buriti (330 km de São Luís), no Maranhão, terminou com cenas de faroeste na última terça (20): o fórum da cidade foi incendiado, e o juiz usou uma arma para conter um homem que arrombou seu gabinete com um machado.
Pela manhã, o magistrado Jorge Antonio Sales Leite havia indeferido um pedido de afastamento do prefeito Rafael Mesquita Brasil e de seu vice, Raimundo Camilo, ambos do PRB. Os dois são acusados de compra de votos.
À tarde, após saber do resultado favorável ao político, ao menos 15 pessoas invadiram o fórum e atearam fogo no local, danificando móveis, computadores e processos.
O incêndio precisou ser controlado por um caminhão pipa da prefeitura, porque o Corpo de Bombeiros fica distante do município.
Também houve uma tentativa de agressão, segundo o juiz. Ele afirma que seu gabinete foi arrombado por Lourival Batista, irmão de Lourinaldo Batista (PHS), candidato a prefeito derrotado em 2012.
Com um machado, Lourival entrou na sala de Jorge Sales, que sacou sua arma para, segundo ele, apenas "pedir calma". Eles lutaram até a chegada da Polícia Militar.
Cinco pessoas foram detidas nesta quarta (21) sob suspeita de terem participado do ataque. Lourival Batista e um outro homem continuavam foragidos, mas, segundo a PM, o irmão do ex-candidato havia prometido se entregar até a próxima sexta.
O juiz deixou Buriti de madrugada para prestar depoimento em São Luís, onde foi aberto o inquérito sobre o caso. Ele diz que pretende continuar atuando no município de cerca de 27 mil habitantes e que terá escolta policial.
O PROCESSO
O prefeito Rafael Mesquita e o vice Raimundo Camilo foram alvo de uma representação sob a suspeita de compra de votos nas eleições municipais de 2012.
Uma moradora de um povoado em Buriti havia dito que Ivonice Mourão, então secretária de Assistência Social do município, havia lhe oferecido "ajuda" para que a filha fizesse um exame de ressonância magnética. Em troca, a mãe deveria votar em Mesquita na eleição.
O juiz afirmou que a testemunha prestou dois depoimentos contraditórios durante o processo. "Que confiança eu tenho num depoimento desses? A pessoa que ler o processo vai perceber que minha decisão foi justa", disse à Folha o magistrado.
Rafael Mesquita foi eleito com uma diferença de 804 votos para Lourival Batista.
Em julho do ano passado, o prefeito e seu vice foram condenados pela 25ª zona eleitoral do Maranhão à cassação de seus diplomas e inelegibilidade por oito anos.
A condenação, no entanto, foi reformada pelo Tribunal Regional Eleitoral. A corte afirmou que Mesquita ainda responde a uma ação de impugnação de mandato.
O juiz Sales, porém, não analisou esse caso. O prefeito não foi localizado pela reportagem.