Ministros têm conversas interceptadas pela Polícia
Gilmar e Cardozo ligaram para político
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o ministro do STF (supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, tiveram conversas interceptadas pela Polícia Federal num inquérito que investiga o ex-governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB).
Os dois telefonaram para o então governador, em maio de 2014, quando ele foi preso em flagrante após uma ação de busca e apreensão da PF em sua residência ter encontrado uma pistola com o registro vencido.
As informações são da revista "Época", que teve acesso a inquérito que corre no STF e investiga o ex-governador por corrupção.
No dia da prisão, Mendes ligou no celular do então governador --grampeado com autorização da Justiça-- e o questionou sobre o que estava acontecendo. O ministro taxou a situação como "uma loucura" e disse que iria conversar com o relator do inquérito no STF, ministro Dias Toffoli, sobre o caso.
Pouco tempo depois da ligação de Mendes, o telefone tocou novamente. Desta vez era o ministro Cardozo. Ele perguntou que "confusão" era aquela que estava acontecendo e, ao ouvir as explicações de Barbosa, exclamou: "barbaridade".
Quatro meses depois da troca de telefonemas, a Primeira Turma do STF, composta por cinco ministros, analisou um pedido do Ministério Público, que queria mandar novamente para trás das grades o então chefe da Casa Civil do governo de Mato Grosso, Éder Moraes. Ele é apontado por investigadores como o operador do esquema que envolve Barbosa.
Toffoli e o ministro Luiz Fux votaram pela manutenção da liberdade. Como o julgamento acabou em empate, Mendes foi convocado para votar e, segundo a "Época", votou pela manutenção da liberdade de Moraes.
À revista, o ministro disse que seu voto seguiu critérios de diversos outros casos semelhantes. Também à "Época", Toffoli disse que não conversou com Mendes sobre o processo envolvendo Barbosa ou Moraes.
Procurado pela Folha, o ministro Cardozo disse que um de seus papéis é apurar abusos da PF, por isso ligou para saber se Barbosa havia sido maltratado por policiais diante de notícias de abusos da polícia, o que foi negado pelo governador.
Mendes disse que não comentaria a reportagem. O ministro Toffoli não retornou as ligações da reportagem.