Grupo quer mudar PSDB para entrar na política
Movimento Onda Azul acredita que falta coesão ideológica aos partidos
Integrantes pretendem se juntar aos tucanos caso sigla concorde em fazer eleições prévias e reforce a transparência
Decidido a participar da política partidária em um campo oposto ao do PT, mas sem flertar com personagens que fazem oposição raivosa ao governo federal, um grupo fundado no fim de 2014 sob o nome de Onda Azul tenta mudar o PSDB para fazer uma filiação coletiva à sigla.
O movimento --que hoje tem ligações com os tucanos, mas é independente-- diz entender que os partidos atuais estão cada vez mais distantes do eleitorado, muito por falta de coesão ideológica, mas que eles ainda são a instância legítima para o engajamento dos descontentes com o cenário político.
Por isso, propõe a reestruturação da legenda com que mais se identificam. O grupo divulgou uma carta em que propõe cinco mudanças ao PSDB, como a adoção de prévias para escolher candidatos a cargos majoritários.
Caso a sigla adote os princípios propostos, o Onda Azul promete realizar um ato de filiação coletiva ao partido. "Há um mercado eleitoral de gente sedenta por ser oposição, mas não uma 'oposição Bolsonaro'", diz Miguel Nicácio, 30, mestre em ciência política pela USP e estudante de direito na FGV-SP (Fundação Getulio Vargas).
A crítica se refere ao deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor de causas conservadoras e frequentemente polêmicas na Câmara.
Para Nicácio, é possível se opor ao governo Dilma Rousseff e, ao mesmo tempo, abrir diálogo com o PT e reconhecer avanços de suas gestões. A posição dele é compartilhada pelos demais do grupo.
Entre os membros do Onda Azul ouvidos pela Folha, nem todos votaram em Aécio Neves (PSDB-MG) para a Presidência em 2014. Há também eleitores de Marina Silva (PSB), Eduardo Jorge (PV) e Luciana Genro (PSOL).
No âmbito das ideias, porém, o grupo afirma ser coeso. "A gente converge a acreditar na social-democracia tal qual tentamos definir na carta [enviada ao PSDB]", explica o principal organizador do grupo, o economista Humberto Laudares, 35.
Ele diz que a intenção é abrir o PSDB para participação popular, incentivar a competição interna no partido e criar instrumentos de transparência --para expulsar corruptos, por exemplo--, entre outras medidas. Tudo para que haja mais discussões na estrutura da sigla como e com a sociedade.
PERFIL
Dos 11 membros entrevistados pela Folha, nove têm curso superior e dois são estudantes universitários. A maioria é de homens.
Por enquanto, o Onda Azul realiza palestras e debates para difundir seus pontos de vista. O professor de engenharia da Universidade Stanford Ram Rajagopal e o filósofo e professor da USP José Arthur Giannotti, entre outros, falaram a integrantes e convidados do movimento.
Um dos encontros, em fevereiro, virou notícia: o senador José Serra (PSDB-SP) contou ao grupo em dezembro ter mudado o plano do trem-bala com a meta deliberada de atrasá-lo. "Enfiei Campinas logo que veio o projeto. Para quê? Para complicar, para ganhar tempo".