Empreiteiro acusa PT de caixa dois, diz revista
Empresário que negocia com procuradores quer falar sobre campanhas, segundo 'Veja'
O empresário Ricardo Pessoa, dono da empreiteira UTC, que negocia acordo de delação premiada com os procuradores da Operação Lava Jato, está disposto a fazer revelações sobre uso de caixa dois em campanhas do atual ministro da Defesa, Jaques Wagner (PT), na Bahia, de acordo com reportagem publicada na edição da revista "Veja" que começou a circular neste fim de semana.
Segundo a revista, Pessoa afirma ter financiado clandestinamente as campanhas de Wagner, que foi governador da Bahia. Os registros da Justiça Eleitoral mostram que a UTC doou legalmente a Wagner R$ 2,4 milhões na campanha de 2010, mas nada em 2006, conforme levantamento feito pela Folha.
Em nota, Wagner rejeitou "as insinuações de uma delação premiada que não aconteceu". Ele disse que as doações da UTC em 2010 foram registradas e que suas contas eleitorais são "abertas ao público e foram devidamente aprovadas e auditadas".
Em janeiro, Pessoa pediu à Justiça para incluir Wagner e outros políticos entre suas testemunhas de defesa no processo em que é acusado de pagar propina para fazer negócios com a Petrobras.
Procurada para falar sobre as declarações atribuídas a Pessoa, a UTC avisou que não se manifestaria. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", o presidente da Constran, empresa controlada pela UTC, João Santana, acusou o governo de reter pagamentos devidos à UTC e a outras empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato.
Pessoa negocia com os procuradores pelo menos desde o início de janeiro, mas investigadores disseram à Folha que resistem a fechar um acordo com ele por considerar que as informações oferecidas são insuficientes, ou já são de conhecimento da Polícia Federal e do Ministério Público.
Segundo o relato da revista "Veja", Pessoa também estaria disposto a vincular o pagamento de propina pelas empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras e as doações à campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014.
O secretário nacional de comunicação do PT, José Américo, afirmou que a reportagem da revista é "baseada em ilações" sobre "uma delação que sequer existe". Segundo ele, a reportagem representa "uma pressão sobre o empresário para fazer a delação". Américo afirmou que as doações feitas ao PT "são legais" e foram todas registradas na Justiça Eleitoral.
Segundo a revista, o empreiteiro estaria disposto a dizer também que seus contratos de consultoria com o ex-ministro José Dirceu, um dos petistas condenados no processo do mensalão, foram simulados para justificar repasses destinados a custear suas despesas pessoais. Dirceu afirmou em janeiro que efetivamente prestou serviços para a UTC e outras empreiteiras após deixar o governo.