Petrolão
Deputados poupam empreiteiros em CPI
Não foram votados requerimentos contra executivos de empresas investigadas e que são doadoras de campanha
Sessão foi marcada por bate-boca que teve início quando o presidente da CPI anunciou sub-relatorias
A CPI da Petrobras na Câmara dos Deputados começou seus trabalhos nesta quinta-feira (5) poupando empreiteiros e as principais empresas suspeitas de envolvimento no esquema de corrupção na estatal.
Na tumultuada reunião, a primeira com propósito deliberativo da comissão e que registrou bate-boca e discussões, não foi votado nenhum requerimento para quebra de sigilo das empresas e convocação de seus executivos.
O primeiro depoimento, agendado para a próxima terça (10), será o do ex-gerente da petroleira Pedro Barusco.
Segundo o Ministério Público Federal, um grupo de empreiteiras contratadas pela Petrobras formou um cartel que pagava propina a agentes públicos para dividir entre si obras da estatal. O esquema envolvia também o pagamento de propina a partidos como PT, PMDB e PP.
De acordo com levantamento feito pela Folha, ao menos 12 dos 27 integrantes da comissão, incluindo o presidente Hugo Motta (PMDB-PB) e o relator Luiz Sérgio (PT-RJ), receberam doações de empreiteiras investigadas.
As transferências foram legais. O PSOL pediu o afastamento dos deputados que receberam esses repasses, mas a requisição foi negada.
Além de Barusco, a CPI aprovou a convocação dos ex-presidentes da Petrobras, Graça Foster e José Sérgio Gabrielli, além dos ex-diretores Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, acusados de terem recebido dinheiro desviado da estatal. O doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema, também será ouvido. Não há data para esses depoimentos.
"Começamos a CPI com o pé direito", declarou seu presidente, Hugo Motta.
O plano de trabalho do relator Luiz Sérgio cita apenas a necessidade de ouvir os representantes da Abemi (Associação Brasileira de Engenharia), à qual estão associadas as empreiteiras.
As únicas companhias citadas são a SBM Offshore, empresa holandesa que pagou propina a funcionários da estatal, e a Sete Brasil, que fornece sondas a estaleiros.
Barusco será o primeiro a ser ouvido porque seu depoimento interessa petistas e tucanos. No caso do PT, porque citou ter recebido propinas de empresas em 1997, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. No do PSDB, porque ele disse que o PT recebeu US$ 200 milhões em propinas durante dez anos.
Foi também aprovada a contratação da empresa Kroll, especialista em rastrear contas no exterior, para buscar informações sobre dinheiro desviado da Petrobras em lugares como a Suíça.
BATE-BOCA
A sessão foi marcada por tumulto e bate-boca entre os deputados, quando o presidente da CPI anunciou que iria criar quatro sub-relatorias, conforme revelou a Folha, para conduzir as investigações. Na prática, isso reduz o poder do PT, que possui a relatoria, cargo responsável por ditar o foco da apuração.
O PT e o PSOL reclamavam que o presidente não poderia, por conta própria, criar as sub-relatorias e indicar seus membros. Neste momento, o deputado Edmilson Rodrigues (PSOL-PA) chamou Motta de "moleque", que rebateu dizendo que "quem manda aqui é o presidente".
As sub-relatorias temáticas foram entregues a partidos insatisfeitos com o Planalto. A estratégia teve o aval do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que foi pessoalmente à sessão.