'Tirar Dilma não adianta nada', diz FHC
Ex-presidente diz que impeachment não é saída para crise e que lideranças serão desafiadas a 'sentir o momento'
Senador diz querer ver petista 'sangrar' até 2018 e que, por reforma política, oposição deve se aproximar do PMDB
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o impeachment de Dilma Rousseff não é uma saída para o país hoje, mas asseverou que "a continuidade dos acontecimentos" e os desdobramentos da crise vão desafiar as lideranças políticas "a sentir o momento".
FHC falou sobre o cenário que cerca a administração da petista durante debate promovido pelo instituto que leva seu nome, nesta segunda-feira (9), em São Paulo. Participaram da conversa o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o economista Ilan Goldfajn, do Itaú Unibanco.
Trechos da fala de FHC foram antecipados pelo site do jornal "Valor Econômico".
Por várias vezes, ao fazer paralelos com a situação atual, o ex-presidente recorreu à memória para narrar os momentos que antecederam a queda de Fernando Collor (então no PRN), em 1992.
"Fui o último a assinar [o pedido de impeachment]. Eu usava uma frase que uso até hoje: impeachment é uma bomba atômica. É pra dissuadir, não pra jogar", narrou.
"Mas nós jogamos a bomba. No começo não queríamos levar àquele ponto, mas tivemos que chegar [...]. Quer dizer, o processo [político] muda as posições da pessoas", concluiu.
Aloysio destacou duas diferenças entre os dois períodos: "Collor estava completamente esvaziado", disse.
"E segundo: já havia uma conjugação de forças prontas para o revezamento. O sr. [FHC] já era uma figura chave no segundo governo."
Logo depois, o senador disse que "hoje, essas condições não estão dadas". FHC afirmou que, nas condições atuais, "tirar a presidente não adianta nada". "Vai fazer o quê depois?", indagou.
O ex-presidente ressaltou que, apesar de não ver o impeachment como saída hoje, "também não pode deixar simplesmente que a sociedade avance sozinha".
"Ela vai necessitar que algumas vozes políticas expressem os seus sentimentos".
Para FHC, as bases política e econômica da gestão federal estão "espatifadas", o que engrossa o caldo de insatisfação social e o clima de imprevisibilidade sobre o futuro do governo Dilma.
"É tão complicada a situação que é imprevisível. Mas a opinião pública vai ter peso. A desvalorização simultânea do sistema econômico e do sistema político faz com que as pessoas façam isso, bater panela", afirmou, em referência ao panelaço que ocorreu em diversas capitais no domingo (8) durante pronunciamento de Dilma na TV.
'LEVY É TECNOCRATA'
FHC disse ainda que não vê interlocutores qualificados para resolver o impasse entre a presidente e o Congresso. Para ele, o ministro Joaquim Levy [Fazenda] será incapaz de convencer os parlamentares a aprovar o ajuste fiscal.
"O ministro Levy é um técnico, não é um político. Eu ia pro Congresso, ministro da Fazenda, mas era senador. Tinha autoridade moral pra enfrentar o debate. Quero ver um tecnocrata enfrentar o Congresso. Não enfrenta", sentenciou FHC.
Apontando caminhos, Aloysio disse que a oposição precisa trabalhar para oferecer propostas aos "órfãos" do governo Dilma. Para emplacar uma reforma política, por exemplo, pregou uma aproximação maior com o PMDB, cujos representantes na Câmara e no Senado vivem um conflito com a petista.
Aloysio disse que o impeachment não está "no programa" do PSDB e que quer ver Dilma "sangrar" até o fim do governo. "Seria tenebroso", respondeu FHC.