Dilma diz que ajuste fiscal vem antes de reforma ministerial
Presidente não detalhou a extensão, mas confirmou que cortes no Orçamento serão significativos
Em evento no RS, ela ouviu críticas de Stedile, líder do MST, que cobrou humildade de ministros da petista
Dois dias depois da demissão do titular da pasta da Educação, a presidente Dilma Rousseff se recusou a falar sobre reforma ministerial nesta sexta-feira (20) e disse que a sua prioridade é a aprovação do ajuste fiscal.
A petista foi questionada sobre trocas no primeiro escalão em entrevista após uma cerimônia em um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) em Eldorado do Sul, na região metropolitana de Porto Alegre.
"Olha, eu não vou falar hoje sobre essa questão", disse Dilma. Na sequência, afirmou que precisava tratar da questão do orçamento e completou: "É necessário que se aprove o ajuste fiscal e que a gente use o orçamento para fazer o contingenciamento. A partir daí, todas as demais medidas vão ser tomadas."
A presidente disse contar com a aprovação, pelo Congresso Nacional, das medidas de ajuste fiscal, para que o governo cumpra a meta de superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida) de 1,2% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2015.
Dilma afirmou que haverá contingenciamento de gastos assim que a lei do Orçamento da União para este ano for sancionada, mas não detalhou a extensão dos cortes.
O então ministro da Educação, Cid Gomes, perdeu o cargo na última quarta após pressão do PMDB, que ameaçou retirar o apoio ao governo Dilma. Cid bateu boca no Congresso com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), a quem chamou de "achacador". A expectativa é que ela faça mais mudanças no primeiro escalão.
HUMILDADE
No evento no Rio Grande do Sul, o ajuste fiscal e o ministério de Dilma foram alvo de críticas de João Pedro Stedile, dirigente nacional do MST, que cobrou humildade dos auxiliares da petista.
"Os ministros da senhora têm que ser mais humildes. Ser mais humildes não é para ir pro Céu. É para ouvir o povo", disse Stedile, atacando especialmente o ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Apesar de se opor a medidas do governo, Stedile defendeu Dilma dos pedidos de impeachment feitos nas manifestações do último domingo. Ele culpou a Rede Globo pela difusão dos protestos.
"Deixe o Rossetto [ministro da Secretaria-Geral, responsável pelo diálogo com os movimentos sociais] cuidando do palácio e venha para as ruas, porque é aqui que vamos derrotar a direita e o seu plano diabólico", discursou o líder do MST.
Na entrevista após o evento, Dilma classificou as opiniões de Stedile como democráticas, mas ressalvou: "Entre a crítica ser democrática e a gente aceitar a crítica tem uma pequena distância".