Petrolão
Doleiro diz ter pago propina para a Odebrecht no Brasil
Youssef afirma que recebeu dinheiro em seu escritório para fazer repasse
Empreiteira nega ter feito pagamentos ilícitos em contratos da Petrobras e afirma que delator mente
Sem citar valores, o doleiro Alberto Youssef disse em depoimento prestado nesta quarta (29) na Justiça Federal no Paraná que a Odebrecht pagou propina também no Brasil, onde os valores eram entregues em dinheiro vivo no escritório dele por representantes da empreiteira e por meio de emissários da doleira Nelma Kodama.
Segundo Youssef, Kodama, condenada em dezembro a 18 anos de prisão, fez os pagamentos em espécie supostamente ordenados pela empreiteira no Brasil e o empresário Leonardo Meirelles emprestava contas no exterior para ele fazer remessas ilegais.
Meirelles foi autorizado a ir à China e Hong Kong, onde ele têm contas que eram usadas pelo doleiro, buscar os supostos comprovantes que envolveriam a Odebrechet.
Até agora a empreiteira só havia sido associada por delatores a pagamentos de suborno fora do país. O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, por exemplo, disse ter recebido US$ 23 milhões da empreiteira em contas na Suíça, conforme a Folha revelou em outubro.
O doleiro disse que os valores da Odebrecht entregues em espécie no escritório dele tiveram ligação com contratos da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco.
Ele mencionou também o pagamento de propina pela empreiteira na obra do Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro).
Youssef não mencionou quem teria recebido o suborno que ele atribui à Odebrecht, o que pode ser uma estratégia para evitar que eventuais alvos de futuras investigações sejam alertados.
O doleiro prestou depoimentos em cinco ações penais, que envolvem as empreiteiras Camargo Corrêa, OAS, UTC, Mendes Junior e Engevix.
Youssef disse que movimentou entre US$ 150 milhões e US$ 180 milhões e que seu lucro nesse esquema foi entre R$ 7 milhões ou R$ 8 milhões, valor que o juiz federal Sergio Moro encarou com ceticismo. "Somente isso mesmo, o sr. tem certeza?", indagou Moro.
O doleiro também disse ouviu do vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite, que dois acionistas da empreiteira (Luiz Nascimento e Carlos Pires) autorizavam o pagamento de propina.
Ainda segundo Youssef, a empreiteira ficou devendo dinheiro a ele.
"Paguei propina da Camargo do meu bolso e não recebi até hoje".Youssef afirmou ainda ao juiz que fazia o caixa dois da OAS e da UTC.
OUTRO LADO
A Odebrecht afirma que "refuta, mais uma vez, as afirmações caluniosas, contra a empresa e seus integrantes, feitas por doleiro réu confesso em dezenas de processos".
A empresa frisa que jamais fez pagamentos ilícitos em qualquer contrato com a Petrobras, não participou de cartel e segue a legislação.
A assessorias da Camargo não foi encontrada na noite desta quarta (29) para comentar a acusação. A OAS nega veementemente as declarações de Youssef. A UTC não quis se pronunciar. (