Para Procuradoria, há indícios de excesso na ação policial no Paraná
Ministério Público abriu uma investigação sobre a ação que resultou em 180 feridos na quarta
Na cúpula do PSDB, a avaliação é que faltou 'habilidade política' ao governador Beto Richa para lidar com situação
A repressão policial contra manifestantes insatisfeitos com a votação de um projeto previdenciário na Assembleia Legislativa do Paraná --ação que deixou ao menos 180 feridos na quarta (29)-- foi qualificada como uma "tragédia" pelo Ministério Público local.
O órgão abriu uma investigação para identificar excessos da PM na ação, episódio que afeta a imagem do governador Beto Richa (PSDB).
"Outras manifestações ocorreram nos últimos meses no Paraná e nós não experimentamos nenhum resultado como o de ontem [quarta]", disse o procurador Eliezer Gomes da Silva. "No mínimo, fugiu do padrão."
"Cabe ao Ministério Público fazer um [...] trabalho rigoroso de apuração dos fatos, para que a verdade seja condutora de um processo de justiça", disse o procurador-geral, Gilberto Giacoia.
Com base em uma decisão judicial que garantia o isolamento da Assembleia, a PM cercou o prédio e arredores na quarta. Ônibus do choque, caminhões dos Bombeiros e a cavalaria foram convocados.
Ainda antes do início da votação, alguns manifestantes começaram a forçar as grades que isolavam a multidão. Disparos com bombas de gás começaram quando a grade caiu e parte do grupo tentou furar a barreira. Foram ao menos 60 minutos de ataques ininterruptos. Balas de borracha, sprays de pimenta e jatos de água também foram usados.
O revide de parte dos presentes foi feito com pedaços de madeira, pedras e copos de água. A maioria, porém, corria da confusão. Segundo os ativistas, 15 mil protestavam; para a PM, eram 5.000.
A PM sustenta que havia black blocs infiltrados, armados com coquetel molotov. Segundo o governo, 20 policiais ficaram feridos. Do outro lado, foram ao menos 160.
Muitos relatam que bombas e tiros atingiam mesmo quem não estava na linha de frente da confusão. "A gente estava longe, atrás do carro de som, não fizemos nada. E era bomba o tempo todo", disse a servidora Saionara Silveira.
O comandante-geral da PM, Cesar Vinicius Kogut, disse que adotou "procedimentos comuns em todas as polícias no mundo", com base no uso progressivo da força. "Não queríamos ferir ninguém."
Nesta quinta, cerca de mil estudantes fizeram um ato em Curitiba em apoio aos feridos.
O Ministério da Educação divulgou nota classificando como "inaceitáveis" os atos violentos diante da paralisação de servidores.
E a presidente Dilma Rousseff fez uma referência indireta ao caso: "Diálogo que é algo que nós devemos enfatizar nesse momento [...] em que vemos alguns acontecimentos bastante graves no que se refere à relação com os trabalhadores", disse ela, ao pedir "repúdio integral à violência."
CRISE TUCANA
A cúpula do PSDB considera que houve exageros por parte da PM e que faltou "habilidade política" ao governador Beto Richa para lidar com a situação. Avalia ainda que o episódio agrava a crise administrativa do Paraná.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que as imagens são "impressionantes": "Se houve exageros, como aparentemente houve, devem ser investigados. É importante, contudo, lembrar que os manifestantes não estavam levando rosas."
O líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), considerou que uma ação policial não pode ser considerada positiva se houve um saldo de pessoas feridas.
O senador Álvaro Dias (PSDB), ex-governador do Paraná, fala em exageros de manifestantes e de policiais.
Questionado sobre um episódio similar em sua gestão em 1988, quando policiais também detiveram professores, disse que "não tem comparação": "Hoje, é muito mais grave. A reação da polícia militar foi desproporcional."