Divisão na cúpula do PMDB ajudou governo
Senadores que sempre votam alinhados com Renan Calheiros apoiaram indicação de Luiz Edson Fachin para o STF
Jucá e Eunício pensam em disputar cadeira do presidente do Senado e viram oposição a jurista como guerra particular
A operação para aprovar a indicação de Luiz Edson Fachin para o STF (Supremo Tribunal Federal) foi possível graças a um racha na cúpula do PMDB do Senado, que costuma atuar em uníssono em questões polêmicas na Casa.
Em rota de colisão com a presidente Dilma Rousseff, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) trabalhou nos bastidores contra Fachin, mas não teve o apoio de seus colegas Romero Jucá (PMDB-RR) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), que tradicionalmente votam alinhados em plenário.
O presidente do Senado nega que tenha trabalhado contra a indicação de Fachin. Após a aprovação, disse que agiu com "equilíbrio e isenção" ao longo do processo.
"As pessoas imaginam que não é preciso fazer sabatina, apreciar. É, sim. Senão, não existiria sabatina e apreciação. Mas o presidente do Congresso Nacional tem que demonstrar equilíbrio, isenção, neutralidade", afirmou.
Peemedebistas tentaram demover Renan. Derrubar a indicação de Fachin seria, segundo eles, comprar briga com o Judiciário e o Executivo num momento turbulento por causa da Operação Lava Jato.
Renan é um dos investigados por suspeita de participação no esquema descoberto na Petrobras. Jucá também é alvo de inquérito no caso.
Renan não quis recuar. Juntou-se a ele na campanha contra Fachin o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTB-AL), também investigado na Lava Jato.
Na segunda (18), o STF autorizou a quebra dos sigilos bancário e fiscal de Collor. Apoiadores de Fachin temiam que o ex-presidente conseguisse votos para derrubá-lo contaminado pela decisão do ministro Teori Zavascki.
Jucá e Eunício, que podem disputar a cadeira de Renan no ano que vem, optaram por se descolar dele. Nas palavras de um congressista, não aceitariam o papel de "Renan boys" numa "guerra particular" do senador contra o Planalto. Se ele tivesse saído vencedor, disseram, ficaria a imagem de que Renan se tornara o "dono do Senado".
Segundo relatos, foi dito a ele que Dilma pode ser derrotada em outras questões, e que a imagem do Senado seria prejudicada se o currículo de Fachin fosse desprezado só para Renan se "vingar" dela.
Jucá e Eunício pediram votos para Fachin dentro da base aliada e procuraram integrantes de partidos da oposição, como o DEM, que virou seus votos para o jurista no final.