Reforma para superar crise divide petistas
Doações empresariais e eleições internas estão no centro do debate
Esses temas estão na pauta do congresso estadual da sigla em São Paulo, que ocorre a partir desta sexta
A proposta de extinção voluntária do financiamento de empresas privadas divide o PT. De um lado estão os grupos mais à esquerda, que pedem banimento imediato de todo tipo de doação empresarial. De outro, grupos menos radicais --com maioria interna--, que só admitem algumas restrições. Topam proibir doações aos diretórios, mas rejeitam criar a mesma regra para os candidatos.
O assunto ganhou força nos últimos meses com o desgaste sofrido pelo partido desde o início da Operação Lava Jato, que investiga um esquema de desvios envolvendo a Petrobras, políticos de várias siglas e as maiores empreiteiras do país, tradicionais financiadores de campanha.
Desde abril, quando o então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi preso na Lava Jato, o partido decidiu que seus diretórios nacional, estaduais e municipais não receberiam mais dinheiro de empresas.
A manutenção dessa medida precisará ser confirmada pelo 5º Congresso Nacional da legenda, marcado para junho, em Salvador. Mas diretórios como o do Rio já estão reclamando.
Em tese, o fim de doações de empresas privadas é uma bandeira de todos os grupos internos. Todos concordam com a aprovação de uma reforma política que estabeleça financiamento 100% público de campanhas.
O problema é como proceder enquanto essa reforma --que parece cada vez mais improvável-- não vem.
Para grupos internos mais à direita dentro do PT, seria impossível manter seus candidatos eleitoralmente competitivos sem dispor do dinheiro empresarial, recursos que continuariam abastecendo os adversários.
"Enquanto [o financiamento público] não virar lei, não podemos deixar os nossos em situação diferente dos demais", diz Emídio de Souza, presidente do PT do Estado de São Paulo, instância que organizará seu congresso nesta sexta (22) e no sábado.
A executiva paulista e Emídio, que pertence ao grupo majoritário em âmbito nacional, defendem uma permissividade no que se refere a financiamento empresarial.
Eles propõem que os diretórios possam aceitar ajuda de empresas para quitar dívidas contraídas até o momento. Só o diretório paulista tem um rombo de aproximadamente R$ 55 milhões hoje.
Crítico do financiamento empresarial, o líder da ala Articulação de Esquerda, Valter Pomar, protesta: "Uma parte de nós vai ter de reaprender a fazer campanha com poucos recursos. Outra vai ter que aprender. E outra, continuar fazendo o que já faz: campanhas politizadas e com pouco dinheiro", afirma.
ELEIÇÃO INTERNA
Outro aspecto do funcionamento do PT em discussão é o chamado o PED (Processo de Eleições Diretas), sistema pelo qual qualquer filiado pode votar para a direção partidária desde que esteja em dia com as taxas internas.
O modelo, apresentado externamente como um exemplo de democracia, é alvo de denúncias frequentes de militantes que pagam dívidas de outros filiados para arregimentar votos.
A cúpula quer manutenção do PED, mas com alterações. Emídio propõe que filiados sem cargos ou vínculos de trabalho com a sigla não tenham mais que pagar para votar.
Correntes mais à esquerda querem a extinção do PED. Preferem um modelo em que delegados eleitos pela base escolham a direção.
Esses grupos não enxergam com bons olhos a mudança menos radical defendida por Emídio. "A ideia [de acabar apenas com a cobrança] é contraditória, ainda mais em um momento em que defendemos o autofinanciamento", afirma Pomar.