Petrolão
Cerveró é condenado a 5 anos de prisão por lavagem de dinheiro
Ex-diretor da área internacional da Petrobras é acusado de usar empresa no Uruguai para comprar apartamento
Para juiz Sergio Moro, 'ganância excessiva' levou executivo para o 'mundo do crime'; defesa irá recorrer
O ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró foi condenado, nesta terça-feira (26), a cinco anos de prisão mais multa de R$ 543 mil por crime de lavagem de dinheiro. Seu advogado diz que irá recorrer.
A condenação decorre de ação penal sobre a ocultação de um apartamento que o ex-diretor comprou, em 2009, com dinheiro que, segundo o Ministério Público Federal, era originário do esquema de corrupção na Petrobras.
O imóvel no bairro de Ipanema, uma das zonas mais valorizadas do Rio, foi confiscado. O duplex, que tem cinco quartos e outros dois para empregadas, é avaliado hoje em R$ 7,5 milhões.
Na denúncia que deu origem ao processo, a Procuradoria da República afirmou que parte da propina paga por empreiteiras ao ex-diretor foi remetida para contas de empresas no Uruguai e na Suíça.
Uma dessas empresas, a uruguaia Jolmey S/A, criou uma subsidiária no Brasil e comprou o apartamento, em 2009, por R$ 1,5 milhão e, depois, pagou uma reforma de R$ 690 mil.
Formalmente, a Jolmey pertence ao uruguaio Oscar Algorta. Para a Procuradoria, Cerveró controlava a Jolmey e usou a empresa para ocultar a compra do imóvel.
"Como diretor da Petrobras, com salário substancial, não tinha qualquer necessidade econômica de enveredar pelo mundo do crime, indicando ganância excessiva", escreveu Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato no Paraná.
No ano da compra do apartamento, Cerveró teve rendimentos líquidos de R$ 815 mil como diretor da estatal.
Ele ainda é réu em uma ação penal por corrupção. O ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, um dos principais delatores da Lava Jato, afirmou que os contratos da área internacional eram fonte de propina para o PMDB. O partido nega.
Auditoria da estatal culpou Cerveró por ter omitido cláusulas do contrato de aquisição da refinaria de Pasadena, nos EUA, que causou prejuízos à companhia.
Dilma Rousseff, que presidia o Conselho de Administração da Petrobras em 2006, afirmou que, se todas as cláusulas tivessem sido apresentadas no resumo executivo de Cerveró, ela teria ficado contra a operação.
'DESCUIDADO'
Na sentença, o juiz Moro afirmou que Cerveró foi "descuidado" na segunda fase da transação, quando teria simulado ser o locatário do apartamento em Ipanema.
Em 2013, Cerveró pagou à Jolmey apenas R$ 9.000 --ou R$ 750 mensais -- a título de aluguel em um imóvel cuja locação custaria, a preços de mercado, R$ 18 mil por mês.
O ex-diretor da Petrobras sustenta ter vivido no imóvel em troca de arcar somente com as despesas de IPTU, condomínio e parte da reforma do apartamento.