Aval a financiamento privado de campanha é obtido com ameaças
Presidente da Câmara e aliados intimidaram legendas pequenas ao dizer que votariam projeto para sufocá-las
Traições no PMDB caíram de 14 para 4; siglas médias também obtiveram promessa para apoiar proposta
Após as derrotas da terça (26), o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e seus aliados passaram toda esta quarta (27) em um intenso processo para virar os votos de deputados que haviam rejeitado o financiamento privado no dia anterior.
Com o mapa de votação da derrota de terça em mãos, líderes partidários e a cúpula da Câmara pressionaram infiéis, relatam deputados.
No PMDB de Cunha, por exemplo, as traições foram reduzidas de 14 para 4 deputados: apenas o ex-relator da reforma política, Marcelo Castro (PI), José Fogaça (RS), Simone Morgado (PA) e Elcione Barbalho (PA) mantiveram os votos contrários.
A principal ameaça foi relatada por integrantes de siglas nanicas. Segundo eles, Cunha e aliados ameaçavam votar nos próximos dias projeto que sufoca a existência dessas siglas. De fato, o mapa da votação analisando os pequenos mostra uma inclinação pró-financiamento privado de terça para quarta.
Partidos médios obtiveram a promessa de que não será aprovado o fim das coligações para a eleição de deputados e vereadores, o que prejudicaria essas legendas.
A principal virada ocorreu no PRB. Na véspera, a sigla havia dado 18 votos contra o financiamento a candidatos e partidos. Nesta quarta, sob o argumento de que aceitava a proposta de restrição das doações somente às legendas, a bancada de 20 deputados votou a favor da medida.
Cunha operou também para dar um "troco" no governo ao criar uma comissão que analisará a proposta de emenda que reduz os ministérios.
Irritado com a dupla derrota de terça --distritão e financiamento--, ele quis dar uma demonstração de força.
Para aliados do presidente da Casa, ministros do governo operaram para derrotá-lo na terça no plenário. Segundo a Folha apurou, Cunha também atribui as derrotas ao PSDB e a membros da base, como PR e PRB.
Para derrubar a reeleição no Executivo, houve consenso entre as siglas. Foram 452 votos a favor e só 19 contra.