Outro lado
Deputados negam fazer barganha com seus votos
Congressistas que fazem parte de grupo de mensagens dizem que precisam atender à base e, para isso, pressionam
Os deputados ouvidos pela Folha disseram sofrer pressão de suas bases eleitorais, mas negam barganhar votos em troca de emendas --embora alguns admitam o uso das votações como instrumento de pressão.
Criador do grupo de WhatsApp, o oposicionista Elmar Nascimento (DEM-BA) diz que a insatisfação tomou corpo após o governo sinalizar que não liberaria os R$ 10 milhões prometidos para que cada novo deputado repassasse verba às suas bases.
"Nesse parlamentarismo branco que a gente está vivendo, a retaliação vem a galope. O governo descumprindo, 'nêgo' vai meter uma emenda em uma MP dessas e, aí, adeus ajuste fiscal."
Mas ele nega barganha: "Eu voto contra de qualquer maneira porque sou oposição, mas para o pessoal que está na base, se não tiver sendo bem tratado termina se tornando oposição também".
Capitão Augusto (PR-SP) afirmou que já havia visitado prefeituras e associações prometendo as verbas.
"Criam a expectativa e agora falam que não vão dar nada? A gente que vai passar como mentiroso?", questiona. Diz, porém, não concordar com a ameaça de retaliação. "Mas é lógico que fica aquele ressentimento, fica aquela mágoa. O pessoal está realmente querendo fechar questão [contra o governo], são 243 deputados."
Autor da mensagem em que conclama os colegas a "mostrar a sua força", Aluísio Mendes (PSDC-MA) afirma que "em nenhum momento vincula essa ação a uma condição de condicionar votação".
André Fufuca (PEN-MA) diz ter havido falta de diálogo. "Não havia necessidade de ter chegado a esse ponto."
Para Beto Salame (PROS-PA), o que houve foi um apelo por tratamento igualitário em relação aos veteranos. "De minha parte não houve nenhum condicionamento [de votação] e não penso que seja válido. (...) Apenas buscamos abrir um diálogo com o governo, não é toma lá da cá."
Apesar de sinalizar na troca de mensagens estar alinhado com a rebelião, Aliel Machado (PC do B-PR) afirmou não concordar com boicotes. "Em temas relacionados ao governo não significa que vai prejudicar o ministro, significa que vai prejudicar a população brasileira."
Segundo Fábio Miditieri (PSD-SE), o intuito é dizer que os novos deputados não são subdeputados. "É claro que faz aquela pressão natural, porque no exercício do mandato você é cobrado por suas bases também. Foi uma manifestação apartidária. O que a gente quer é só um tratamento igualitário."
Fausto Pinato (PRB-SP) também reclamou da pressão das bases. "Não é questão de barganha, mas uma questão de direito. (...) Não que é vou votar contra o governo, mas em umas questões pontuais a gente vai endurecer, sim."
A Folha não conseguiu falar com os outros deputados citados nas mensagens a que teve acesso.