Dilma minimiza críticas e petistas reagem a Lula
Para a presidente, todos têm o direito de falar o que pensam, sobretudo Lula
'Prefiro quando Lula diz que os que acham que o PT vai acabar darão com os burros n'água', afirmou Rui Falcão
As recentes críticas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao governo e ao PT provocaram reação da presidente Dilma Rousseff e constrangimento no partido.
"Todos têm direito de fazer críticas. Principalmente o presidente Lula, que é muito criticado por vocês [jornalistas]", disse a presidente Dilma Rousseff nesta terça-feira (23) no Rio, em sua primeira declaração pública sobre o tema.
Em conversa com religiosos e numa palestra recentes, Lula afirmou que o governo está no "volume morto".
"Não sei se o defeito é nosso, se é do governo. O PT perdeu a utopia", afirmou.
Dirigentes do partido foram menos contidos que Dilma e expressaram, nesta terça, o desconforto.
"Prefiro quando o Lula diz que os que acham que o PT vai acabar darão com os burros n'água", disse o presidente do PT, Rui Falcão.
Questionado sobre a pertinência das críticas, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), respondeu que, no momento, o melhor seria que elas fossem feitas internamente.
"Acho que no momento [são críticas] internas e não públicas", disse. "O Lula tem todo o direito de criticar o que ele quiser, não me estresso com essas coisas."
"Só posso dizer que a perspectiva do PT no Nordeste é muito boa. Quem fica apregoando essa história do PT estar no fundo do poço, estar no volume morto... vamos esperar as eleições. Já vi tantas previsões feitas e não realizadas", concluiu Guimarães.
O líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), tentou justificar a atitude. "Lula acha que o PT perdeu a energia. Chateação não digo. Mas ansiedade dele há."
Em suas declarações recentes, o ex-presidente reclamou de cansaço, diz que fala as mesmas coisas que em 1980 e que os petistas só pensam em cargos, empregos e em serem eleitos.
SOLIDARIEDADE
Na contramão do descontentamento com Lula, a bancada de senadores do PT divulgou nesta terça uma nota em solidariedade ao ex-presidente.
Os parlamentares afirmam que Lula é vítima de uma "sórdida campanha" e que seus adversários usam "cínica e seletivamente" a luta contra a corrupção para "tentar destruir um projeto nacional e popular".
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que as críticas de Lula são "legítimas". O ministro disse ainda concordar com as declarações.
"Há muitos anos eu milito numa corrente do PT que propõe mudanças. Isso [que ele disse] induz todos os petistas e simpatizantes a refletirem. Ele assume uma posição de vanguarda", disse Cardozo.
Segundo seus colaboradores, Lula tem se queixado de uma sensação de impotência frente à crise econômica e política. Ele também tem afirmado ser o próximo alvo da Operação Lava Jato. Para o deputado Wadih Damous (PT-RJ), Lula quer "chamar o PT para o debate".
Ex-ministro de Lula, o deputado federal Miro Teixeira (PDT-RJ) afirma que o ex-presidente criou um "fato político" ao criticar o PT para desviar o foco da prisão da cúpula da Odebrecht.
O líder do PPS na Câmara, deputado Rubens Bueno (PR), foi na mesma linha. (ITALO NOGUEIRA, CATIA SEABRA, GABRIELA GUERREIRO, ANDRÉIA SADI, MARINA DIAS E NATÁLIA CANCIAN)