Petrolão
Cardozo fala a aliados sobre deixar governo
Alvo de cobranças do PT, ministro da Justiça dá sinais de esgotamento, mas diz que sua saída depende de Dilma
Avanço da Operação Lava Jato levou partido a criticar atuação da Polícia Federal, que é vinculada ao ministério
Quatro anos e seis meses após assumir o Ministério da Justiça, José Eduardo Cardozo (PT) confidenciou a amigos que deseja deixar o governo Dilma Rousseff.
Um dos últimos remanescentes do primeiro mandato de Dilma, o ministro já dava sinais de esgotamento desde o fim do ano passado. Ficou no cargo devido à turbulência da Operação Lava Jato.
Mas a situação se agravou com as pressões petistas para que ele deixe a cadeira justamente porque a Lava Jato avança sobre os principais expoentes do partido.
A Polícia Federal, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras, é subordinada ao ministro.
Procurado, o ministro disse apenas que "permanece no cargo durante o tempo em que a presidente avaliar que devo permanecer''.
Aos mais próximos, Cardozo tem dito estar "de saco cheio" e lembra que todo ministro tem "prazo de validade''. Ele afirma, em conversas reservadas, que há uma "fadiga de material'' ao lembrar ser o ministro da Justiça mais duradouro do período democrático.
O segundo é Márcio Thomaz Bastos (1935-2014), que ficou quatro anos e dois meses no cargo. Cardozo diz em privado que o cargo representa custo pessoal alto. Recentemente, ele passou por uma cirurgia na tireoide.
Parte dos seus interlocutores desconfia da real intenção de Cardozo em deixar o cargo. Eles acreditam que o ministro busca, na verdade, um afago de Dilma para permanecer no governo fortalecido, em meio ao tiroteio petista contra sua permanência.
Na semana passada, a executiva nacional do PT decidiu convidar Cardozo a dar explicações ao partido sobre a atuação da PF.
Não houve nenhuma defesa pública de Cardozo, justamente o ministro escalado por Dilma para defender o governo em momentos de crise.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se queixa a interlocutores de que o ministro, da cota pessoal de Dilma, perdeu o controle da PF.
Se Cardozo sair, o único nome citado para substituí-lo é o do secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcellos, próximo de Dilma, mas com pouca densidade política.
É quase certo que uma saída de Cardozo levaria a mudanças no alto escalão da PF. O atual diretor-geral, Leandro Daiello, é homem de sua confiança, e é ele quem define quem comanda a polícia nos Estados.