Petrolão
Quarto ex-diretor da Petrobras é preso
Segundo a PF, Jorge Zelada transferiu 7,5 milhões de euros não declarados da Suíça ao principado de Mônaco
Ministério Público diz que prisão completa a 'camarilha dos quatro' e fecha o cerco ao núcleo 'das falcatruas'
A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (2) em caráter preventivo, ou seja, sem prazo de duração, o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Jorge Zelada.
Os procuradores alegaram ao juiz Sergio Moro que, entre julho e agosto de 2014 --após a deflagração da Lava Jato--, Zelada transferiu € 7,5 milhões (cerca de R$ 25 milhões) que estavam escondidos na Suíça para uma conta no principado de Mônaco com o objetivo de impedir o bloqueio dos valores.
Para o Ministério Público, essa movimentação demonstrou "inequívoco propósito" do investigado de continuar a ocultar o produto de seus crimes e dificultar a investigação. Relatório da Receita Federal mostra que Zelada nunca declarou oficialmente ter ativos no exterior.
Ao todo o ex-diretor manteve € 10,3 milhões no exterior, que já foram bloqueados pelos países europeus.
A prisão completa a "camarilha dos quatro" que comandava os desvios na estatal, segundo o Ministério Público. Integram o grupo, além de Zelada, os ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Nestor Cerveró (Internacional) e Renato Duque (Serviços).
"Era o núcleo principal das investigações e falcatruas", afirmou o procurador Carlos Fernando de Lima.
Indicado pelo PMDB, Zelada assumiu a área Internacional da Petrobras em 2008, em substituição a Cerveró. Foi tirado do cargo em 2012, quando a então presidente Graça Foster decidiu reformular as diretorias da estatal.
Os investigadores dizem ter indícios de que o ex-diretor, que ficará preso na carceragem da PF em Curitiba, recebeu propina na contratação de um navio sonda pela estatal.
Moro determinou ainda o bloqueio de até R$ 20 milhões de Zelada e de R$ 7 milhões do consultor Raul Schmidt Felippe Júnior, ligado ao ex-dirigente da estatal e que trabalhou para o estaleiro coreano Samsung num contrato em que surgiram indícios de pagamento de propina.
Documentos remetidos pelas autoridades de Mônaco ao Brasil apontam indícios de que Felippe Jr. atuou como intermediário de uma complexa operação financeira que resultou num depósito de US$ 2 milhões (R$ 6,3 milhões) para Renato Duque, conforme a Folha revelou em maio. A origem do dinheiro foi a Samsung.
Em fevereiro, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, delator na Lava Jato, afirmou que Zelada também era beneficiário do esquema.
Outra empresa de Zelada, a Z3 Consultoria em Energia Ltda., também teve seus ativos atingidos pelo bloqueio, mas sem limite de valores. (FLÁVIO FERREIRA, ESTELITA HASS CARAZZAI, GABRIEL MASCARENHAS, LUIZA MELLO FRANCO, ALEXANDRE ARAGÃO)