Petrolão
Delator diz agora que deu R$ 4 mi a Dirceu em dinheiro vivo
Como testemunha, Júlio Camargo prestou um novo depoimento ao juiz Sergio Moro, titular da Lava Jato
Empresário colabora desde 2014, mas nunca tinha falado no assunto; ele não citou local ou data da suposta entrega
O empresário Júlio Camargo, delator na Operação Lava Jato, disse nesta terça-feira (14) ao juiz federal Sergio Moro que entregou R$ 4 milhões em dinheiro vivo ao ex-ministro José Dirceu.
Júlio Camargo colabora com as investigações sobre corrupção na Petrobras desde dezembro de 2014 e já prestou vários depoimentos, mas esta é a primeira vez em que falou no assunto.
O empresário, que trabalhava para o grupo Toyo Setal, foi ouvido como testemunha numa ação penal que tem como réus o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, ambos presos em Curitiba.
Informado sobre esta parte do depoimento enquanto Camargo ainda era interrogado, o advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, negou que seu cliente tenha recebido propina e disse que o delator não falou a verdade.
O juiz Sergio Moro perguntou a Júlio Camargo se a nomeação de Renato Duque para a diretoria de Serviços da Petrobras fora patrocinada por Dirceu, ministro da Casa Civil no governo Lula.
O delator disse que sim, e afirmou que chegou a entregar R$ 4 milhões, em espécie, para Dirceu a pedido de Duque. Ele não detalhou as circunstâncias nem o local em que essa suposta entrega teria sido feita.
Camargo já tinha admitido o pagamento de R$ 137 milhões em suborno, dos quais US$ 40 milhões (R$ 102 milhões) para o lobista Fernando Soares, apontado como operador do PMDB, e R$ 35 milhões para Duque.
O novo depoimento pode complicar a situação de Dirceu. Ele é alvo de um inquérito na Lava Jato por causa dos pagamentos que recebeu de empreiteiras que tinham negócios com a Petrobras.
Dirceu abriu uma empresa de consultoria após deixar o governo e ter o mandado de deputado federal cassado, em 2005, no auge do escândalo do mensalão.
Como consultor, ele faturou R$ 39 milhões de 2006 até 2013. Empresas investigadas pela Lava Jato pagaram a ele R$ 9,5 milhões, num período em que Duque era o diretor de Serviços da Petrobras.
O lobista Milton Pascowitch, que ajudou a aproximar a empreiteira Engevix do PT e também passou a colaborar com as investigações da Lava Jato, disse que alguns pagamentos à consultoria de Dirceu eram propina.
O ex-ministro da Casa Civil sempre negou o recebimento de propina e também a indicação de Duque para a diretoria da Petrobras.