Renan cogita manobra para segurar recondução de Janot à Procuradoria
Se ele for o indicado por Dilma, ideia é postergar a votação da escolha no plenário do Senado
Retaliação é discutida nos bastidores desde março pelo presidente do Senado, alvo da Operação Lava Jato
Em uma manobra para inviabilizar, ainda que temporariamente, a permanência de Rodrigo Janot à frente da Operação Lava Jato, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), estuda segurar a votação que decidirá sobre a eventual recondução do Procurador-Geral da República para depois do término do mandato do chefe do Ministério Público.
Calheiros é alvo da Operação Lava Jato e, nos bastidores, discute com parlamentares uma retaliação a Janot desde março, quando foi incluído na lista de autoridades investigadas pela Procuradoria-Geral da República.
O mandato de Janot termina em 17 de setembro. No dia 5 de agosto, os candidatos ao cargo serão submetidos a uma eleição na qual votam os membros do Ministério Público. Os três mais votados são submetidos à presidente Dilma Rousseff, a quem cabe escolher um deles para apreciação do Senado.
A tradição da presidente Dilma tem sido a de indicar quem recebeu mais votos. Janot é o favorito para a vaga.
Se ele vencer e for o indicado por Dilma, o Senado precisa votar sua indicação até 17 de setembro. Caso a recondução não for definida antes do fim do mandato, quem assume interinamente é o vice-presidente do Conselho Superior do Ministério Público.
A ideia de Calheiros, segundo a Folha apurou, é deixar Janot ''na chuva''. Fora do cargo, ele voltaria para o gabinete de subprocurador. A ação, na prática, interromperia a condução de Janot na linha de frente da Lava Jato em um período crucial das investigações.
O regimento interno do Senado não fala em prazo para votação de indicações de autoridades.
A ideia, ainda em análise pelo peemedebista, conta com a resistência de alguns senadores aliados de Calheiros ouvidos pela reportagem.
Segundo um parlamentar, a estratégia pode ser um ''tiro no pé'' já que a categoria de procuradores deve se revoltar com a ação do chefe do Senado, pressionar o interino na Procuradoria a intensificar ainda mais as investigações contra políticos investigados no esquema de corrupção envolvendo a Petrobras e empreiteiras.
Hoje, o cargo de vice-presidente do conselho superior do MPF é ocupado por Eitel Santiago de Brito Pereira.
A Procuradoria já passou por três interinidades, entre a indicação do Executivo e a aprovação no Senado: na troca de Antonio Fernando de Souza para Roberto Gurgel, na recondução de Gurgel e de Gurgel para Rodrigo Janot. O período máximo em que um procurador-geral permaneceu como interino foi de cerca de um mês.
Membros do Ministério Público dizem que um eventual atraso grande do Legislativo na apreciação da recondução de um procurador causaria estranheza, especialmente num período de investigações que envolvem políticos.
Colaborou Gabriela Guerreiro, de Brasília