Suíça diz ver sinais de propina da Odebrecht
Ministério Público suíço fala em indícios de uso de contas no país para empreiteira pagar ex-diretores da Petrobras
Relatório da PF sobre anotações nos celulares de Marcelo Odebrecht lista menções tortuosas a bancos em Genebra
O Ministério Público da Suíça afirmou nesta quarta-feira (22) que encontrou indícios de que a Odebrecht usou contas bancárias no país para pagar propina a ex-diretores da Petrobras.
O órgão disse manter "numerosas investigações" sobre a Petrobras. E confirmou que uma delas é relacionada à Odebrecht, "empresas associadas e pessoas", dados que têm sido enviados às autoridades brasileiras, ressaltou.
A cooperação entre os dois países na Lava Jato já resultou no bloqueio de ao menos US$ 400 milhões no país europeu.
Indícios de conexão da Odebrecht com contas na Suíça surgiram em diferentes etapas da investigação da Operação Lava Jato. Boa parte é de informações inconclusivas, já que as apurações ainda estão em curso.
Exemplos disso estão num relatório recente da Polícia Federal que analisa anotações feitas nos celulares de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira que atualmente está preso. O documento cita menções a contatos dele na Suíça.
Numa anotação associada ao ex-diretor da empresa Rogério Araújo, também preso, há menções aos bancos Pictet e PKB, ambos com sede na Suíça. Sobre o Pictet, Marcelo anota "declarar ctas já", o que sugere a existência de contas não declaradas.
"A referência a Rogério Araújo e conta corrente na Suíça é constante [no celular do empresário], indicando a preocupação de Marcelo com a mesma, como pode ser observado na anotação 'RA vs cc Sw (direção fluxo? Delação dos envolvidos?)'", diz trecho do relatório da PF.
Outra anotação destacada é "PRC/Suiça. PV?". Na interpretação do agente que analisou o material, PRC é Paulo Roberto Costa, o ex-diretor da Petrobras que virou delator. E PV "possivelmente se refere" a Patrick Valiton, um diretor do banco suíço Pictet.
Valiton, diz a PF, mantém contato regular com Marcelo desde 2010, "conforme se comprova com as informações retiradas do aparelho". Uma das reuniões, cita, ocorreu sete dias após a deflagração da Lava Jato, em março de 2014.
CIDADÃO SUÍÇO
Outros indícios que ligam a empreiteira brasileira à Suíça estão nas delações feitas por Paulo Roberto Costa e pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco em troca do abrandamento de penas.
O primeiro disse ter recebido mais de US$ 20 milhões em propina da Odebrecht na Suíça. O segundo confessou ter recebido US$ 97 milhões de fornecedores da estatal, entre eles a Odebrecht.
Ambos disseram que os pagamentos foram feitos por uma empresa registrada no Panamá com a ajuda de um economista brasileiro que vive em Genebra chamado Bernardo Freiburghaus.
Cidadão suíço, Freiburghaus deixou o Brasil no ano passado para morar em Genebra. Em outra fase da Lava Jato, os investigadores constataram que ele trocou 135 telefonemas com Rogério Araújo entre julho de 2010 e fevereiro de 2013 –vários deles momentos antes de transferências para contas secretas de Paulo Roberto na Suíça.
O Pictet se negou a comentar sua relação com Odebrecht. Alegou estar impedido pela lei do segredo bancário e por sua política interna. Seu porta-voz, porém, garantiu à Folha que, se preciso, o banco vai colaborar com as autoridades da Lava Jato.