Petrolão
Advogado desponta na Lava Jato com delações
Discreto, Marlus Arns fechou dois acordos e negocia outros três, entre eles o do ex-diretor da Petrobras Renato Duque
Concorrentes atribuem sucesso de criminalista ao bom trânsito junto a procuradores e à Justiça Federal paranaense
Preso pela segunda vez há cinco meses, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque decidiu trocar o renomado escritório carioca que o atendia desde seu envolvimento na Operação Lava Jato, em novembro, por um advogado de atuação discreta e, até poucos meses, desconhecido em âmbito nacional: o paranaense Marlus Arns de Oliveira.
A mudança ocorreu após Duque optar pela delação premiada, caminho já trilhado por 28 alvos da operação.
Arns, 45 anos e advogado há 22, foi quem conduziu os acordos de Dalton Avancini e Eduardo Leite, ex-executivos da Camargo Corrêa.
Os dois foram condenados a quase 16 anos de prisão, mas, devido à delação, irão cumprir pena em casa. O acordo também permitiu o retorno dos empresários ao lar após quatro meses na prisão.
O advogado admite aumento na procura pelo seu trabalho: "Não dá para negar".
Ele negocia a colaboração de mais dois nomes da Lava Jato: o publicitário Ricardo Hoffmann, preso em Curitiba, e Ivan Vernon, assessor do ex-deputado Pedro Corrêa, que está em liberdade.
O criminalista atribui a procura à sua experiência na área –diz que seu escritório atuou em nove das últimas dez operações da Polícia Federal no Paraná– e à coragem de experimentar "institutos mais modernos de defesa", como a delação premiada.
Para os concorrentes, porém, Arns vem despontando porque há poucos advogados interessados nesse mercado, e também pelo bom trânsito junto a procuradores e à Justiça Federal paranaense.
Até a Lava Jato, Arns fazia parte do coro de críticos da delação. Professor da Academia Brasileira de Direito Constitucional, ele sempre falou contra o instituto, e diz que provavelmente continuaria fazendo isso se não tivesse entrado na operação.
"Depois que firmei os acordos, não dei mais aulas. Quando voltar, vou mostrar que é um caminho da defesa, mas que precisa ser debatido, estudado e aprimorado."
PERFIL CONCILIADOR
Quem conhece Arns diz que a condução de acordos casa com sua personalidade "conciliadora" e "equilibrada".
Quando disputou a presidência da OAB do Paraná, em 2006, ele foi da oposição, numa campanha aguerrida.
Seu perfil gregário rendeu o apoio de todos os advogados eleitorais do Estado –do PSDB ao PT. Ficou em segundo lugar e, nas eleições seguintes, articulou a união das oposições numa chapa única.
Na Lava Jato, o perfil se repetiu. "Quando íamos falar com o Eduardo [Leite] no parlatório e o encontrávamos amargurado, Marlus o deixava desabafar pelo tempo que fosse preciso", conta o irmão do executivo, Edgard Leite. Para ele, Arns soube criar um "laço de afeto".
Sobrinho-neto do arcebispo-emérito de São Paulo dom Paulo Evaristo Arns, o advogado tem o costume de ir semanalmente à igreja.
Pessoas próximas dizem que sua vida não mudou após a Lava Jato –à exceção da agenda, hoje mais concorrida.
"É o mesmo carro, o mesmo apartamento", afirma o irmão Henrique Arns. "Não posso dizer que ele ficou mais rico. É simples, não ostenta."
Um integrante da equipe de Arns diz que os honorários ainda não alcançaram a "tabela Catta Preta" –referência à advogada que fechou nove acordos na Lava Jato e, segundo fontes do mercado, cobrava de R$ 2 milhões a R$ 5 milhões por delação.
O paranaense tem outro desafio: a concorrência do conterrâneo Figueiredo Basto. Pioneiro no Brasil em delações e há mais de dez anos neste mercado, Basto tem quatro acordos fechados e um em negociação na Lava Jato.