Dilma faz apelo contra 'vale-tudo' na política
Presidente diz que é preciso pensar primeiro no Brasil e pede estabilidade para superar a atual crise econômica
Evento do Minha Casa, Minha Vida virou ato de desagravo à petista, que ouviu da plateia gritos de 'não vai ter golpe'
A cinco dias dos protestos contra a gestão federal, a presidente Dilma Rousseff criticou o que chamou de "vale-tudo" para atingir "qualquer governo" e disse que não adianta ficar "um brigando com o outro", porque isso prejudica o país.
Em recado a setores da oposição que defendem o seu impeachment –e até mesmo a renúncia ao cargo–, a petista pediu estabilidade política e afirmou que, antes de partidos e projetos pessoais, é preciso pensar "primeiro no Brasil" para "fazer a travessia" da grave crise econômica que afeta o país.
As declarações foram feitas nesta segunda (10), durante cerimônia de entrega de 4.467 moradias do programa Minha Casa, Minha Vida em São Luís, no Maranhão.
Desde que a crise se intensificou, a presidente tenta implementar uma agenda positiva para minimizar os desgastes e divulgar programas do governo.
"É como numa família. Diante de uma dificuldade, não adianta um ficar brigando com o outro. [...] Ninguém que pensa no Brasil, no povo, deve aceitar a teoria dos que pensam assim: 'Ah, eu não gosto do governo, vou enfraquecer ele'. Quanto pior, melhor. Melhor para quem? É pior para a população, para todos nós", disse.
Dilma, que tem sofrido seguidas derrotas no Congresso e, recentemente, perdeu o apoio de PDT e PTB, também fez um apelo aos parlamentares e criticou a aprovação de propostas que geram "um caos financeiro para Estados e municípios".
"Vamos repudiar sistematicamente o vale-tudo para atingir qualquer governo, seja federal, estadual ou municipal. Quem acaba sendo atingido é a população. Tudo que estamos fazendo tem o objetivo de dar condições para a gente entrar em um novo ciclo", afirmou.
O evento acabou virando um ato de desagravo à presidente, que enfrenta o seu pior momento –apenas 8% da população aprova o governo, segundo pesquisa Datafolha feita na semana passada.
A plateia, de correligionários e membros de movimentos sociais, apoiou Dilma com gritos de "não vai ter golpe".
À noite, Dilma se reuniu, em jantar no Palácio da Alvorada, com 21 de seus ministros de Estado e 43 senadores de sua base aliada para pedir que o Senado atue como "poder moderador" diante das chamadas "pautas-bomba", que oneram o Estado.
Ao lado de ministros da equipe econômica, Dilma pediu que os senadores impeçam a aprovação final dessas pautas e votem a desoneração da folha de pagamento, último ponto do ajuste que precisa passar pelo Congresso.
Horas antes do jantar, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), comprometeu-se a votar a desoneração e entregou aos ministros de Dilma uma lista com medidas do Congresso para combater a crise.
A chamada "agenda Brasil" contém diversas propostas polêmicas aos olhos de Dilma e do PT, como a possibilidade de cobrança do SUS (Sistema Único de Saúde).
O presidente do Senado foi convidado para o jantar, mas disse a aliados que não seria de bom tom comparecer a um encontro em que a presidente pediria apoio à base e poderia falar da agenda apresentada por ele. (MARIANA HAUBERT, MARINA DIAS, DÉBORA ÁLVARES, GUSTAVO URIBE)